Pessoas Incluindo Pessoas
EP 03 – Literatura, Poesia e Inclusão
No terceiro episódio do podcast Pessoas Incluindo Pessoas, o Instituto Paradigma convida você para uma conversa cativante com João Carlos Pecci, escritor, poeta e artista plástico. Nossa equipe teve o privilégio de ser recebida na casa desse grande artista, proporcionando um bate-papo que vai além das fronteiras da literatura, poesia e inclusão.
EP 03 – Literatura, Poesia e Inclusão
Com uma entrega completa à arte, João expressa sua vivência e propósito por meio da escrita, da poesia e da pintura, transformando-se em símbolo de resiliência e representatividade. Suas obras e palestras ecoam um ideal de inclusão e igualdade, promovendo um desejo genuíno por uma sociedade mais justa e acolhedora.
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Saiba Mais Sobre Nosso Convidado
João Carlos Pecci é um artista plástico e escritor brasileiro, conhecido por sua habilidade em criar obras abstratas que traduzem sua visão singular do mundo. Sua trajetória engloba pinturas e trabalhos literários que mesclam sensibilidade estética e profundidade poética. Suas criações oferecem um olhar atento ao cotidiano e às nuances da experiência humana.
Além de sua carreira nas artes visuais, João Carlos Pecci também se destaca como escritor, com diversas publicações que exploram temas como cultura, memória e poesia. Em sua obra literária, ele revela um talento único para contar histórias que dialogam diretamente com sua produção artística, unindo imagem e palavra de maneira singular, ampliando as possibilidades de interpretação do público.
Leia a transcrição da conversa
Vinheta
“Pessoas, incluindo pessoas.”
Flávia Cintra
Olá, aqui é a Flávia Cintra e esse é o podcast “Pessoas, incluindo pessoas” do Instituto Paradigma.
Hoje, no episódio em que a gente vai conversar sobre literatura, poesia e inclusão.
E para isso nós temos o privilégio de estar frente a frente com João Carlos Pecci na sala da sua casa.
Que delícia te ver João!
João Carlos Pecci
O maior prazer para mim. Delícia mais ainda eu te sentindo.
E um prazer muito grande em receber vocês para conversar sobre esses assuntos todos.
Flávia Cintra
Antes da gente começar, vamos se descrever?
Bom, eu sou a Flávia, uma mulher branca, de olhos e cabelos castanhos, tenho 1 metro e 80 de altura, mas estou sentada na minha cadeira de rodas, o que não dá para perceber o tão alta que eu sou.
Você também João, é bem alto.
Eu estou usando uma blusa laranja e uma calça preta.
E você João?
João Carlos Pecci
Eu sou João Carlos Pecci, 82 anos, 1 metro e 76, sentado numa cadeira de rodas, cabelos grisalhos e pele morena, vestindo uma camisa verde musgo e um short azul.
Flávia Cintra
Há quanto tempo você está na cadeira João?
João Carlos Pecci
56 anos.
Flávia Cintra
56 anos! Eu estou há 32.
João Carlos Pecci
Mas tomara que você chegue lá. Infelizmente na cadeira. (Risos)
Mas vai chegar.
Flávia Cintra
Temos com a gente o Artur Calasans, a Val Paviatti.
Artur Calasans
Tudo bem, gente, eu sou Artur, sou um homem de pele clara, cabelos e barbas grisalhos.
Estou vestindo uma camisa listrada branca e azul, uma calça jeans e um tênis preto.
Eu tenho 1 metro e 80, assim como a Flávia, tem 1 metro e 80 também.
Val Paviatti
Olá, eu sou o Val Paviatti.
Tenho olhos e cabelos castanhos, uso óculos, cabelo encaracolado, estou usando uma blusa verde e calça jeans.
E no episódio de hoje, vamos conversar com João Carlos Pecci, escritor, poeta e artista plástico, nascido em 17 de março de 1942, biógrafo do poeta Vinicius de Moraes e do seu irmão, o músico Toquinho.
Val Paviatti
Generoso, delicado, esposo de Márcia, mulher destemida e vanguardeira, e pai de Marina.
João é pioneiro em muitos assuntos, corpo da pessoa com deficiência, sexualidade, acessibilidade, relacionamento e vida independente.
O sucesso dos livros de João o levou a palestrar em todo o país, ampliando o olhar sobre a deficiência no Brasil.
Flávia Cintra
E eu conheci o João falando sobre um dos livros, alguns dos livros dele, em 1992.
Val Paviatti
Uau!!
Artur Calazans
Como foi esse encontro Flávia? Você lembra essa cena?
Flávia Cintra
Nossa, me lembro como se fosse ontem!
Val Paviatti
Conta pra gente. (Risos)
Flávia Cintra
Eu fazia reabilitação na AACD.
Meu acidente foi um acidente de carro em 1991, e em 1992 eu passei por aquele processo da reabilitação clássica.
Na nossa época, né!
E era de segunda a sexta, aquela programação intensiva de exercícios de fisioterapia, terapia ocupacional, e às sextas feiras à tarde, a gente tinha um curso ministrado por um rapaz que também era tetraplégico, o Serginho.
E ele trazia médicos, fisioterapeutas, pra explicar pra gente, o motivo das transformações do corpo, como cuidar desse corpo nesse novo momento.
Flávia Cintra
Pra que a gente pudesse ter mais autonomia quando saísse desse processo da reabilitação. E no último dia do curso, eles sempre convidavam alguém especial, alguém que já tivesse vivido todas as fases da reabilitação e já estivesse lá na frente, vivendo o que a gente muitas vezes achava que não era possível.
E nesse último dia nós tivemos uma palestra com o João, que levou os livros, os quadros, contou a sua história. Ele já era casado com a Márcia, já tinha uma história de amor, já tinha muita conquista.
E aí, assim, eu me lembro, além de lembrar da cena daquele auditório, onde a gente…
João Carlos Pecci
Sim!
Flávia Cintra
Onde ficávamos todos…
João Carlos Pecci
Como se fosse hoje.
Flávia Cintra
Me lembro como se fosse hoje, aquele auditório da AACD, mas eu me lembro também do sentimento que eu saí daqui, daquele lugar, daquele dia, de, falar meu Deus, tem uma vida legal lá na frente, dá pra conquistar, dá pra fazer, tem um monte de coisa que não dá pra fazer. Mas tem muita coisa que dá pra fazer.
E naquela época, João, quando você ia a AACD, você tinha assim, você sempre teve tanta simplicidade, você sempre falou de um jeito tão generoso.
A minha sensação é que você não sabe a unanimidade, a estrela, a potência que você sempre foi, o farol que você sempre foi na vida das pessoas com deficiência.
E eu acho que ainda hoje você não tem essa consciência João.
João Carlos Pecci
Não, eu não tenho. Eu acho que eu contribui muito para isso.
Eu ia com a maior boa vontade, com a maior vontade de mostrar as coisas de uma maneira simples, verdadeira e corajosa. Mostrar tudo isso.
Flávia Cintra
Porque você sempre se expôs muito, né?
João Carlos Pecci
Sempre. Eu…. eu nunca, nunca me escondi, né, em relação à sociedade.
A grande lição que eu tive na minha vida foi expor quadros na Praça da República, onde eu ia todo domingo de manhã, totalmente exposto.
No verão, eu usava um short sem camisa, com um pano molhado no pescoço e a vista de todos, era um cadeirante. Era um paraplégico.
Flávia Cintra
Que não era nada comum.
João Carlos Pecci
Não era de jeito nenhum.
Flávia Cintra
Você era o único.
João Carlos Pecci
O único paraplégico lá, o único cadeirante.
Não conheci ninguém naquela época, em que eu estive lá.
Flávia Cintra
Você não teve nenhuma referência, ninguém que tenha feito antes, pra te inspirar?
João Carlos Pecci
Não, nunca ninguém em mim me inspirou, porque não existia alguém tão referente assim. Eu fui o primeiro a me expor e a escrever.
Eu não tinha um amigo, eu não tinha um conhecido. Eu não tinha alguém que me indicasse, “Olha, aquele cara é forte, você tem que seguir.”
Não, eu seguia a mim mesmo. Por isso a criação do Joca no livro “Minha profissão é andar”. Porque foi nele, no meu ego, que eu me encontrei.
Flávia Cintra
A Val até tem umas anotações, porque ela devorou seu livro, né Val?
Val Paviatti
Sim, devorei. E a capa também é do João, então vou descrever um pouco a capa. “Minha profissão é andar”, é uma a capa azul, azul céu, com uma pipa e um par de pernas. E o João falou do personagem Joca. Tem vários personagens interessantes nesse livro, e uma das falas do Joca é a seguinte:
“A vida não está apenas na realidade perceptível, João. Existe também a possibilidade concebível, e essa possibilidade está em você, latente. Viva! Essa possibilidade possui vida e só você pode torná-la realidade.”
O Joca, pra mim João, me trouxe inúmeras inspirações e eu fiquei apaixonada por ele. E tem mais um trechinho dessa mesma parte que diz assim, o João ainda conversando com o Joca:
“Eu pareço uma ilha, Joca. Sou só braços e cabeça.” Joca responde, “Não há continente mais poderoso que uma ilha fortificada” … Uau!
E aí, João…
João Carlos Pecci
É porque eu me sentia forte, né, apesar de tudo.
Agora, o grande segredo de você reconquistar, é a transformação.
Um tetraplégico, paraplégico, qualquer deficiente físico, ele tem que se transformar para conseguir as coisas.
Flávia Cintra
Como é que faz isso?
João Carlos Pecci
Eu tenho uma frase que indica isso, “a transformação é a busca do que se perdeu. Mas o que se pensa que se perdeu, às vezes, pode ser devolvido pela vida. De uma outra forma, um pouco mais além”.
Então é você lutar de uma maneira diferente. Você não é mais a mesma pessoa.
O seu limite ele diminuiu totalmente.
Você tem que saber o que você pode, e o que você não pode.
Flávia Cintra
Mas fazer isso sozinho é mais difícil né?
João Carlos Pecci
Tem que ser essa consciência.
Flávia Cintra
Fazer isso sozinho, não é mais difícil?
João Carlos Pecci
Bom, eu não fiz isso em um dia, nem dois né? Eu fiz durante… faço até hoje, 56 anos!
Porque, os limites que eu tinha há 30 anos atrás, eles também diminuíram.
O meu físico ia até um ponto, hoje não vai mais.
Então é uma outra nova transformação que você tem que perceber.
Tão difícil ou mais do que a primeira.
Flávia Cintra
É mesmo?
João Carlos Pecci
É.
Flávia Cintra
Não poder mais andar na barra paralela, te custa muito?
João Carlos Pecci
É, parece incrível, mas é, pior do que no começo, não andar.
Porque, aquele ímpeto de voltar a andar, em 69, 70, no começo da minha reabilitação, me levava até aquele sonho de eu vou conseguir andar com as pernas.
Eu não tinha nem consciência de que isso era impossível, mas lá dentro, em mim, eu estava perseguindo isso.
Então eu passo por toda essa transformação, por toda essa liberdade, por toda essa independência física. E vejo que de um tempo para cá, as coisas se reduzem, porque se reduz a todo mundo.
Flávia Cintra
Porque é difícil envelhecer, e lidar com os novos limites do corpo, é isso?
João Carlos Pecci
Porque sim! É. E tem que aprender também isso, né.
Agora, como é que se aprende, como é que se compensa? Se compensa com tudo aquilo que eu conquistei e que eu não tinha antes! E que a vida me deu.
Que… que são conquistas psicológicas, são conquistas espirituais, são conquistas pessoais. O casamento, a Márcia, a filha, os novos quadros, os novos livros.
Então, a produção que você vai ter oportunidade de mostrar, esse é o que vai compensar a tua vida física.
Flávia Cintra
Você nunca negou, a dor de não poder fazer coisas como jogar futebol, por exemplo.
Mas você foi criando novas maneiras de lidar com essas impossibilidades, buscando possibilidades. Esse foi o segredo?
João Carlos Pecci
Quando eu andava na rua de Bengala canadense, que fazia aqueles trajetos todos que está no livro, era como se estivesse num campo de futebol, jogando. Porque era um impulso físico tão grande, era uma resistência tão grande de ir para frente, ir para frente, que aquilo quando eu chegava em casa, quando eu voltava, era como se eu tivesse jogado um futebol.
Flávia Cintra
Exausto!
João Carlos Pecci
Não era exausto, era aquele cansaço gostoso, e o corpo está totalmente livre de traves entende?
Eu fui compensando assim, agindo, fazendo, buscando alcançar esses limites.
Flávia Cintra
E vivendo!
João Carlos Pecci
Da maneira que eu tinha possibilidade.
Flávia Cintra
E vivendo, né João, e vivendo… vivendo a vida!
João Carlos Pecci
Olha, a vida me me foi proporcionada pela família, pelos amigos, pelas namoradas que eu tive, e pelo sonho de pintar melhor, de escrever melhor. Então esse é o… a matéria que a vida me deu para eu prosseguir.
Flávia Cintra
E aí você começou a ser muito convidado para fazer palestras, para contar sua história para pessoas com deficiência, que talvez não tivessem de imediato a força que você teve.
João Carlos Pecci
Então foi uma evolução em todos os sentidos. Enquanto eu evoluía fisicamente, eu via o meu livro vendendo muito. Eu recebia convite para palestras, então era uma estrutura nova, pessoal, que toda pessoa quer ter.
Eu conseguia trabalhar, eu conseguia me divertir, eu conseguia namorar. Então tá lá, trabalho, lazer e sexualidade.
O que uma pessoa quer na vida?
Flávia Cintra
Isso!
João Carlos Pecci
Quer isso. Apesar de paraplégico, eu estruturei tudo isso, mas com muita ajuda, sozinho, de jeito nenhum.
Flávia Cintra
Sozinho é muito difícil.
João Carlos Pecci
Os amigos me ajudaram, as namoradas me ajudaram.
Depois conheci a Márcia, aí a vida toda se completou, se arredondou.
Flávia Cintra
Como foi que você conheceu a Márcia?
João Carlos Pecci
Bom, foi, (risos) eu consegui fechar aquela ferida grande que eu tinha no cóxis através de uma cirurgia plástica. Só isso que adiantou.
João Carlos Pecci
Eu no hospital 9 de julho, eu tinha sido operado fazia dois dias, e a Márcia foi visitar uma amiga dela, que deveria estar no quarto onde eu estava. E quem estava lá era eu, ela foi dois dias atrasado, ela e uma amiga.
Aí bateu na porta, e minha mãe com aquela efusividade dela, “Você não quer conhecer meu filho”. (Risos)
Flávia Cintra
Mães!
Val Paviatti
Dona Diva espertinha hein!
Flávia Cintra
As mães.
João Carlos Pecci
E ela entrou… a gente se olhou e eu vi aquele monumento feminino, 17 anos, queimada de sol, era janeiro, cabelo longo. E foi aquela coisa de bater o olho e ficar impressionado.
E a mesma coisa aconteceu com ela. Então é uma coisa que não se explica muito, como é que uma pessoa vai naquele quarto, sem conhecer ninguém nem nada, e encontra uma pessoa que vai ser seu namorado, vai ser o seu companheiro e vai casar e vai ter uma filha, sabe, a vida preparou tudo isso desde aquele dia.
Aí ela começou a ir em casa me visitar. A gente ficou mais firmemente amigos e passou para o namoro e depois pensar em casamento.
Mas ela me acompanhou muito nas primeiras palestras que eu fiz, já antes de casar. Porque eu não tinha com quem ir. As vezes acontecia um amigo, mas não era sempre.
E aí esse, o nosso casamento, começou a ser preparado nessas viagens.
Flávia Cintra
Há sim!
João Carlos Pecci
Porque até que ponto eu conseguia mostrar para ela, as dificuldades que ela ia enfrentar.
Mostrava de uma maneira prática, ela estava junto comigo.
Improvisando as situações nos hotéis, porque naquela época eu não tinha as adaptações de hoje.
Flávia Cintra
Mas se hoje é difícil, eu imagino naquela época.
João Carlos Pecci
E ela tem uma estrutura psicológica muito positiva, de enfrentar as coisas e resolver!
O que eu não tenho!
Eu chegava nos aeroportos, eu detesto viajar de avião.
Flávia Cintra
Eu também.
João Carlos Pecci
E totalmente perdido. Aonde é que eu vou? Qual é a saída? Qual é o embarque?
E ela, olha tá lá.
Estava na minha frente.
E ela me guiando em tudo isso. Uma companheira total que me ajudava a resolver as coisas nos hotéis, improvisava espelho, banho. Atenta…
Flávia Cintra
Mal sabia ela que era um test-drive para a vida de casado.
João Carlos Pecci
Eu acho que sim.
(Risos)
Eu acho que sim.
João Carlos Pecci
Era mais ela.
E, e assim eu fui estruturando todo um companheirismo, e uma confiança nela, apesar da idade dela.
Flávia Cintra
Naquela época, bem mais jovem que você.
João Carlos Pecci
Ela se casou comigo com 25 anos.
Hoje, nem pensar. Uma mulher muito raramente faz isso.
E, e assumir tudo, toda a responsabilidade de conviver com um paraplégico… com 25 anos nessa casa grande, cuidando de tudo, comida, arrumação, cuidar de mim quando eu precisava.
Então era uma mulher, como eu digo aí, destemida e vanguardeira. Ela é uma vanguardeira, vê lá na frente. E me ajuda até hoje.
Flávia Cintra
E embarcou com você em muitas aventuras, inclusive para levar a sua história de vida, é, como motivação para que outras pessoas também encontrassem a própria felicidade, né João?
João Carlos Pecci
Eu acho que sim, porque ela me acompanhava sempre.
E eu a apresentava desse jeito. Mas ela, muito tímida, nunca falou nada em palestra nenhuma.
Ela é aquela imagem produtiva, mas distante.
Flávia Cintra
Discreta. Ela sempre foi muito discreta.
João Carlos Pecci
É.
Flávia Cintra
Eu me lembro que nós nos encontramos no DEF Rio. Isso foi em 1995.
Foi um congresso inesquecível, que reuniu centenas de pessoas com deficiência vindas de todas as partes do Brasil e do mundo. Numa época que é importante a gente lembrar, não tinha internet.
João Carlos Pecci
Não, não tinha nada dessas coisas.
Flávia Cintra
E a gente discutiu ali os assuntos mais importantes, né, de reivindicação de direitos das pessoas com deficiência.
E também falamos muito de futuro, do futuro que a gente queria conquistar e que a gente está vivendo hoje.
João Carlos Pecci
Palestras maravilhosas.
Flávia Cintra
Que lembrança que você tem daquele congresso?
João Carlos Pecci
Aquele congresso só me deu coisa boa.
Inclusive uma cadeira de rodas, ganhei num concurso.
Flávia Cintra
É verdade, não lembrava disso.
João Carlos Pecci
Ganhei uma cadeira de rodas! Fui com uma e voltei com duas.
E… aquele congresso foi uma preparação para alguma coisa que ia acontecer que eu não sabia ainda.
Então, aquele relaxamento, aquela disposição para a vida com amigos, com tudo a disposição, piscina, passeios, inclusive as conferências todas, o aprendizado.
Flávia Cintra
O João acordava cedinho e ia tomar sol. Você adora sol né, João?
João Carlos Pecci
Bom, até hoje, né… até hoje.
É uma coisa insubstituível na minha vida.
Flávia Cintra
Foram dias, é, mágicos, mesmos que a gente viveu ali?
João Carlos Pecci
Foram dias mágicos! E a mágica acho que entrou dentro da gente.
E na volta para São Paulo, na Via Dutra, aconteceu uma coisa impressionante.
Outra coisa mística.
A gente vinha de carro, tranquilo. E na altura de Aparecida do Norte, que foi onde eu sofri o acidente, no mesmo local, na frente da Basílica, da Basílica antiga naquela época, mas nova está lá, quase no mesmo local.
Aí, um caminhão, pum! Solta uma pedra do pneu e bate no meu vidro da frente, e estilhaça o vidro.
Flávia Cintra
Que susto!
João Carlos Pecci
Assim, pá!
Aí eu olhei, a basílica, falei, Márcia, a gente tem que parar e entrar lá na igreja, porque podia ter acontecido muita coisa aqui.
E vamos entrar, porque a gente tem que…
Flávia Cintra
Isso na volta da viagem?
João Carlos Pecci
Na volta da viagem!
Flávia Cintra
Nossa!
João Carlos Pecci
Aí entramos, paramos o carro lá, tudo tranquilamente e pedimos, claro, os dois pediram aquilo que a gente queria mais.
Depois de dois dias…
Flávia Cintra
O que que vocês pediram?
João Carlos Pecci
Pedimos o nascimento da filha né.
Isso, inevitável.
Flávia Cintra
Era isso que naquele momento, vocês já queriam muito um filho?
João Carlos Pecci
Já. Era 95!
A gente fazia inseminação há, quatro anos já.
Flávia Cintra
Inseminação?
João Carlos Pecci
É. Demorou, né?
Flávia Cintra
Inseminação…
João Carlos Pecci
Não, autoinseminação.
Flávia Cintra
Conta pra gente, então, como que vocês ficaram quatro anos tentando fazer a Marina?
João Carlos Pecci
A Márcia calculava a ovulação dela. Ela sentia nos dias da ovulação. E nós preparávamos a ejaculação nesses dias.
Porque eu só conseguia ejacular no máximo duas vezes por mês.
A gente já sabia disso pela prática.
Então tinha que ser naquele dia da ovulação, né.
E nesse dia que a gente voltava, coincidiu…
Flávia Cintra
De ela estar ovulando?
João Carlos Pecci
Que, não, que uns dias depois, ela começou a sentir, “Olha, pode ser agora”. (Risos)
E no dia 30 de novembro, nós fizemos a auto inseminação… e depois de uns 15 dias ela fez exame de sangue e constatou a gravidez.
Então você monta tudo, o quarto, a chegada dela no hospital, a pedra no vidro, a basílica, tudo estava endereçado a alguma coisa mágica que ia acontecer.
Flávia Cintra
Isso foi no dia 30 de novembro de 1995?
João Carlos Pecci
95! E a Marina nasceu em 96, em agosto.
Conta de Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, nove meses.
Artur Calazans
E você foi o pioneiro da técnica, né João?
João Carlos Pecci
Também, no Brasil.
Artur Calazans
No Brasil?
João Carlos Pecci
Também.
Flávia Cintra
Uma técnica? Uma técnica, assim foi uma…
João Carlos Pecci
É uma técnica caseira.
Flávia Cintra
Virou uma técnica né? Um experimento que você com, aí com a…
João Carlos Pecci
Uma pessoa que vê eu velejando, que mora… morava eu acho.
Acho que em Alagoas. Ela queria ter filho, o marido era paraplégico, e conseguiu contato comigo. E falou “Nossa João, você conseguiu”, falei tudo para ela, além do livro, eu vou tentar.
Falei tenta! E ela tem os gêmeos. Tem os gêmeos agora. (Risos)
Flávia Cintra
E o Dr. Borelli, te acompanhando nessas aventuras, né?
João Carlos Pecci
O Dr. Borelli era meu urologista né…
Flávia Cintra
O pai?
João Carlos Pecci
O pai, é. Hoje o filho também é. Mas naquela época era o pai, que me orientava em tudo.
Inclusive ele, antes de eu me casar, eu falei, Borelli eu quero ir na tua casa para você explicar tudo para a Márcia. O que eu posso, e o que eu não posso. As dificuldades e os benefícios.
Então nós fomos na casa dele, e ele falou claramente tudo que podia acontecer, o que ela ia enfrentar. Porque eu queria que ela tivesse essa consciência, para seguir comigo de uma maneira definitiva, sabendo tudo.
Então ele sempre foi assim, sempre me aconselhou muito.
E a gente tinha feito inseminação artificial em laboratório umas três vezes. E não tinha dado certo. Não tinha, não pegou, não deu.
Aí, numa última consulta, o médico chegou para Márcia e falou, “Você é infértil”.
E apontou para mim, “E você também”.
Flávia Cintra
Como assim?
João Carlos Pecci
Por causa de toda a análise que ele fez…
Flávia Cintra
Ele chegou à conclusão de que vocês dois eram inférteis?
João Carlos Pecci
É… é!
Aí ela desandou num choro total, uma depressão.
“Eu não vou fazer mais nada”.
E nesse ínterim, o Borelli começou a nos incentivar.
“João, não há nada perdido. Você ejacula num potinho, a Márcia aspira com a seringa e se auto insemina”.
Eu dava risada.
“Borelli você está brincando comigo. Isso não vai acontecer”.
“Vai. Vai acontecer”.
E aconteceu! Foi ele que orientou tudo.
Ele que deu essa abertura para a gente fazer isso.
Flávia Cintra
Muitos outros homens já fizeram essa técnica e engravidaram também suas esposas, né?
João Carlos Pecci
Eu acho que sim.
Porque eu, a primeira tentativa que eu fiz foi na AACD com o Borelli, ele que organizou o grupo, para testar em paraplégicos e tetraplégicos.
E eu fui lá, fiz e não deu nada, não saiu nada. Duas vezes!
A Márcia estava junto, ela viu, o estimulador, o vibrador que eles usavam.
“Viu João, tem em casa esse vibrador. Vamos fazer”. Aí começamos a fazer aqui.
Sabe, tudo ela!
Essa consciência de que as coisas podiam dar certo.
Flávia Cintra
Ela é muito positiva, né?
João Carlos Pecci
Muito.
Flávia Cintra
Você também.
João Carlos Pecci
Eu também, mas em relação a filho, ela acreditava muito mais do que eu… que podia acontecer.
Flávia Cintra
E hoje a Marina é uma médica?
João Carlos Pecci
É uma benção. E não dá para qualificar o sentido dessa bênção, desse orgulho que eu tenho, que nós temos em relação a ela.
Flávia Cintra
É, acho que não dá.
João Carlos Pecci
Uma criança maravilhosa!
Desde o começo, compreensiva e determinada, para tudo, né.
E o que ela quis. “Eu quero isso!”, e foi em frente, e está conseguindo.
Flávia Cintra
João, hoje você já vive nessa condição na cadeira de rodas há mais de 50 anos. 56?
João Carlos Pecci
56!
Flávia Cintra
Olhando para trás, lembrando daquela sua experiência, do jeito que as pessoas te olhavam, lá quando você estava expondo seus quadros e viver aquele cenário ainda tão anterior à era da inclusão, que é que nós, contribuímos para construir. De lá para cá, como que é, do alto aí já da sua idade, da sua experiência de vida, olhar para todas as fases que a gente já passou até chegar aqui?
João Carlos Pecci
Eu lembro que um dia, um cara me comprou um quadro, um senhor, ele era cadeirante, ele era paraplégico.
“Gostaria que você levasse esse quadro na minha casa”.
Eu, “Tá bom. Eu levo, conheço a sua casa. Tudo bem?”
Aí eu perguntei para ele, “Há quantos anos você é paraplégico?”, falou “Há 50 anos”. Eu me assustei.
Eu não sabia tudo o que ia acontecer comigo. Estava na Praça da República em 73, 74.
Falei, meu Deus, 50 anos numa cadeira de rodas. E bem! Tranquilo.
Levei o quadro na casa dele, tomamos lá um chá, um café.
E ficou isso na minha cabeça. 50 anos numa cadeira de roda!
Foi o primeiro pensamento que eu tive quando eu escutei essa frase, com certo medo, com certo temor de que, “Puta, vou ter que passar por tanta coisa? Será que…”, não cheguei a pensar, “Será que eu chego lá?”. Mas achei um tempo enorme.
De ficar sem andar, durante 50 anos.
João Carlos Pecci
Aí com tudo que foi acontecendo, com a minha contribuição, com a evolução toda da sociedade em relação a filmes, a teatros, que foram mostrando a deficiência de uma maneira mais, menos mística.
Tudo isso evoluiu de uma forma que dá a impressão, ou não, só a impressão de que as coisas hoje, se enxergam de uma maneira muito mais normal.
Tanto que a própria, não procura do meu livro, já é uma, um relógio disso.
Flávia Cintra
Normalizou.
João Carlos Pecci
Que as pessoas não têm mais aquele incentivo, há deixa eu ver o que aconteceu com esse cara. Porque tem tanta gente ali na cadeira de rodas fazendo tudo, de uma maneira tão brilhante.
E hoje o que eu recuperei em, sei lá, em três anos, hoje se recupera em três meses, quatro meses. Por causa da técnica de fisioterapia.
Flávia Cintra
Da tecnologia.
João Carlos Pecci
De tudo que está acontecendo, dessas coisas que você usou nos Estados Unidos, que davam medo.
Flávia Cintra
(Risos) O exoesqueleto!
João Carlos Pecci
Você chega até esse ponto. De te facilitar na vida física e na vida intelectual.
As empresas admitindo pessoas.
Então é uma evolução que aconteceu, muito em benefício de tudo.
João Carlos Pecci
Tem o lado oposto, aquele paraplégico que anda na rua com sua cadeira e encontra as dificuldades todas, não tem calçada disponível, anda pelo meio fio, vai tomar ônibus e o elevador tá encrencado. Tudo, tudo isso.
Artur Calazans
A própria educação inclusiva, né João, que abre…
João Carlos Pecci
Que evoluiu muito.
Artur Calazans
Evoluiu muito! Uma porta enorme aí, para crianças, jovens e adultos com deficiência.
João Carlos Pecci
Apesar de que eu estava ouvindo uma entrevista, eu não me lembro a pessoa, ela dizia da incapacidade dos professores de cuidarem, por exemplo, de autistas.
Não tem professores especializados, então falta muito isso nas escolas.
A vontade é de incluir, mas a inclusão tem que ser feita de uma maneira perfeita, uma maneira adequada.
Eu acho que nós estamos encaminhando para uma situação de inclusão mesmo, em todos os sentidos, e isso é muito demorado.
Isso é uma…
Artur Calazans
Que é um caminho de desenvolvimento, é um caminho de novos…
A questão do transtorno do Espectro Autista é algo muito recente, dentro da educação inclusiva. Então eu acho que isso é um novo desenvolvimento, uma nova perspectiva.
João Carlos Pecci
Agora, quando você vê na televisão, o Mion, falar do filho dele com uma clareza que ele fala, você pô, nós estamos evoluindo. Muita gente, bilhões de pessoas estão ouvindo o que ele está falando.
Aí o vizinho tem um filho autista, o parente tem outro.
Aí você já sabe o que falar para a pessoa, para o pai, para a mãe, porque você ouviu coisas boas dele.
Isso é impressionante! É importantíssimo para mim.
Artur Calazans
É, essas pessoas já não estão mais só dentro de casa, estão na rua, estão na escola.
E aí então, movimentando uma sociedade inclusiva, como é o nosso desejo.
João Carlos Pecci
Desde que eu comecei a escrever o “Minha Profissão”, eu achava que as pessoas têm que se mostrar, não adianta, não adianta se esconder.
Flávia Cintra
Por quê?
João Carlos Pecci
Porque tem que tem que viver a vida. Você não pode viver de outra maneira.
E se mostrando, você ajuda as pessoas a te entenderem.
Você não fica recluso de uma deficiência.
Artur Calazans
Agora dá para te entender na Praça da República, sem camisa, com a toalha molhada no pescoço, agora.
João Carlos Pecci
Por quê?
Artur Calazans
Porque é se mostrar! E se mostrar para representar uma figura potente, uma figura marcante.
Artur Calazans
Imagino você, 1 metro e 76, bronzeado, na Praça da República com seus quadros.
João Carlos Pecci
Mas isso são reflexões que eu fiz depois.
Naquele domingo, eu achava, uma graça eu sair de casa.
Um amigo meu ia comigo, meu pai me levava, no Gordini. E cabia tudo no Gordini, cadeira de rodas, cavalete, quadros.
Não sei como é que a gente fazia. Uma mágica.
E eu estando lá, assistindo as pessoas a olharem meus quadros, admirarem, a criticarem.
Falo, eu estou vivendo!
Eu estou participando!
Mas participando da arte!
Não contribuindo para uma ausência de preconceito, não era isso que eu pensava.
Isso, era uma coisa que acontecia naturalmente. Eu não estava lá para isso.
Artur Calazans
Falando em arte, eu tenho uma curiosidade assim. Eu, como você é um poeta, eu queria entender e saber de você, se tem uma poesia que sustenta essa vida toda, todas essas histórias. Se você carrega uma poesia na cabeça?
João Carlos Pecci
Vou ver se eu lembro.
Flávia Cintra
Mas tem uma? Especial?
João Carlos Pecci
Uma poesia que eu falava até nas palestras.
“Aqui sermos caminhantes, atrevidos vegetais, cáulicos, portentos, verticais,
Aqui, sermos delirantes, delicados cristais, lúbricos, amantes, horizontais,
Aqui sermos conflitantes, frágeis mortais, cálidos, humanos, animais”.
João Carlos Pecci
Então, nós temos que compreender isso.
Se você for como o bambu, que verga e não quebra, se você for como aquela joia que você cultiva e deixa as pessoas cultivarem. E se você for natural, como um animal.
Você engloba os três fatores, que podem te fazer uma pessoa atuante e compreensiva.
E, isso, atuante e compreensiva. Isso é essencial na vida. Se compreender as diferenças.
Val Paviatti
Ainda falando em arte, João, seu primeiro livro foi, “Minha Profissão é Andar”. Fala para gente sobre os outros livros que você lançou.
João Carlos Pecci
Bom… quando eu vi o sucesso, “Minha profissão”, foi, eu não posso parar, eu quero escrever né.
Aí, o segundo livro são poesias. Que eu fazia e guardava.
Aí a Sumus, resolveu editar também.
Deu “Existência”.
O terceiro eu me meti a escrever o romance… “O Ramo de Hortênsias”.
Flávia Cintra
Ramo de Hortênsias. Esse eu comprei na AACD.
João Carlos Pecci
Uma coisa tão difícil de fazer, e eu me atrevi a fazer.
Flávia Cintra
Lindo! Lindo!
João Carlos Pecci
Que não tem nada a ver com a minha… com minha característica de escritor, de documento, de fazer um documentário, fazer uma coisa natural ou pessoal.
E, no lançamento do livro do “Existência”, eu achei que eu vendi poucos livros. Porque na “Minha profissão é andar”, eu vendi 560 livros no dia do lançamento.
Porque era um estrondo. Aquele assunto né.
Ai no “Existência” vendeu 420.
Falei não! A editora está me roubando. Não é possível!
(Risos)
Aí o que eu fiz, eu abri uma empresa, uma editora, para bancar “O Ramo de Hortênsias”.
E eu acabei ganhando! Artesanal naquela época, editou o livro, confeccionou tudo de graça!
E eu comecei a vender esse livro diretamente. E ganhei muito dinheiro com isso.
Eu comprei um carro, comecei a pensar em casamento. Me deu uma estrutura legal, porque…
Flávia Cintra
O João é tão sensacional que ele conseguiu ganhar dinheiro com o livro no Brasil.
Val Paviatti
Então!
João Carlos Pecci
Mas foi dessa maneira né. Abrindo uma editora, enfrentando tudo isso.
Artur Calazans
Empreendendo pela palavra, né, pela poesia, pela palavra.
João Carlos Pecci
A Márcia pegava os livros e ia levar nas livrarias, como se fosse uma entregadora.
Depois surgiu a oportunidade de escrever um livro sobre o Toquinho.
Que a Editora Maltese me convidou, queria falar sobre ele, isso em noventa e…, não antes. 94…
Flávia Cintra
Acho que todo mundo sabe já, que você e o Toquinho são irmãos, né?
João Carlos Pecci
Quem?
Flávia Cintra
Acho que é público, publica, a informação de que o João é irmão do Toquinho.
João Carlos Pecci
Já não tem mais dúvida.
Flávia Cintra
E foi lindo demais, foi lindo demais você biografar o seu irmão.
João Carlos Pecci
Então, mas antes eu tinha escrito o do Vinícius.
Flávia Cintra
“Vinícius sem ponto final”.
João Carlos Pecci
“Vinícius sem ponto final”.
Pela Saraiva.
E, e foi um aprendizado na minha vida impressionante.
Quatro anos de pesquisa sobre Vinícius de Moraes.
Artur Calazans
Imagino.
João Carlos Pecci
Aí, quando eu resolvi, eu acho que eu vou escrever sobre o Vinícius. Mas eu não tinha nem conta do trabalho que ia me dar.
Eu conhecia ele, ele teve em casa aqui uma vez, lá na Guaianazes, onde eu morava antes, várias vezes ensaiando.
Então eu tinha uma aproximação com ele. Mas tinha muito mais uma admiração. Por tudo! Era meu ídolo de adolescência.
Aí comecei a trabalhar, pesquisar, contactar pessoas, parceiros, namoradas, mulheres, casado, amigos, enfim, uma coletânea toda para montar um livro sobre Vinicius.
Demorei também, acho que uns quatro anos para isso.
E foi editado em 94. Pela Saraiva.
Aí em 96 escrevi sobre o Toquinho. E depois, atualizei em 2010. Em 2006, 40 anos. 96, 30 anos… e em 2006, 40 anos.
Aí nasceu a Marina! Em 96.
Falei, não, não é possível. Vou ter que escrever sobre isso.
(Risos)
Mas aí foi mais rápido. Em 98 lançaram. A Saraiva também lançou “Velejando”.
E hoje estou aqui, com outro livro, que é o “Ser, conceber, evoluir”. Uma história sobre a esclerose múltipla.
Uma história fantástica de uma mulher que é parceira no livro comigo, a Suzete. Que vive, a esclerose não tem cura, então, a maneira como ela enfrenta a convivência com a esclerose.
Que as vezes é muito mais difícil do que vencer uma doença que tem cura. Agora acabou, agora estou bem!
Não, você tem que conviver com aquilo. Bom, como a gente convive com a deficiência física.
E ela tem a dela, que não é igual a nossa, mas que é muito restritiva, e é sistêmica, né.
Atinge todos os órgãos.
Flávia Cintra
Sim.
João Carlos Pecci
E foi o livro que foi lançado no ano passado. Teve uma aceitação legal.
E agora eu tô trabalhando esse livro. Vamos ver o que acontece.
Mas é uma história bonita. E ela me ajudou muito a escrever.
Flávia Cintra
João, eu acho que eu posso falar em nome de todas as pessoas com deficiência que você iluminou, com a sua trajetória, com os seus livros, com a sua arte, com o seu exemplo.
Muito obrigada pela sua vida.
Muito obrigada por abrir o caminho para tanta gente, e eu me incluo nesse mundo de gente que você pavimentou uma estrada.
É uma honra te conhecer, poder te chamar de amigo, e estar aqui nesse momento com você. Muito obrigada!
João Carlos Pecci
Bom Flávia, você é uma pessoa que quando eu vejo na Globo, pessoalmente também, aí eu descarrego, não sei se você percebe um carinho que te ilumina inteira.
Flávia Cintra
Eu sinto… você só dá coisas boas para as pessoas.
João Carlos Pecci
É um carinho muito grande que eu tenho por você, por você sentir tudo isso por mim, e por você ter feito também tudo o que você fez na vida, dizendo que foi um aprendizado daquela tarde.
Flávia Cintra
Tudo começou naquela tarde.
Muito obrigada, João.
João Carlos Pecci
Obrigado vocês por estarem aqui, por revelarem tudo isso, toda a minha vida é muito grande, muito grande o prazer, e a vontade de abraçar fortemente vocês três.
(Todos)
Obrigada! Obrigada! Obrigado!
(Palmas)
Flávia Cintra
E a gente hoje fica por aqui.
Em breve, um novo episódio de:
(Todos)
“Pessoas Incluindo Pessoas”
Val Paviatti
O podcast do Instituto Paradigma.
(Saudações)
Artur Calazans
Vai Corinthians!
Vinheta
Esse episódio contou com a apresentação de Flávia Cintra, Arthur Calasans e Val Paviatti.
Entrevistado
João Carlos Pecci.
Gravação de áudio
João Teixeira.
Produção e edição
Uirá Vital.
Transcrição
Celso Vital e Silva.
Realização
Instituto Paradigma e Olho Preto Produções.
Você encontra a transcrição desse episódio no nosso site www.iparadigma.org.br
O texto pode ser traduzido para a Língua Brasileira de Sinais, utilizando a ferramenta Hand Talk, disponível em nosso site.
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