Pessoas Incluindo Pessoas

EP 10 – Cinema, Autonomia e a Singularidade de “Uma em Mil”

No décimo episódio do podcast "Pessoas Incluindo Pessoas", celebramos o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência com uma conversa histórica. Flávia Cintra, Arthur Calasans e Val Paviatti recebem os irmãos Tiago Rubert e Jonatas Rubert, diretores do aclamado documentário "Uma em Mil".

O Protagonismo Atrás das Câmeras

Tiago, pessoa com síndrome de Down, e Jonatas, cineasta, dividem a direção deste longa-metragem que já nasce premiado, conquistando três Kikitos no Festival de Gramado e o prêmio de Melhor Filme na mostra Novos Rumos do Festival do Rio. Mais do que falar sobre cinema, este episódio é um mergulho na autonomia, na dinâmica familiar e na potência de narrar a própria história.


Provavelmente o primeiro longa-metragem brasileiro codirigido por uma pessoa com síndrome de Down, “Uma em Mil” rompe com a tradição de ter a pessoa com deficiência apenas como objeto de estudo ou personagem. No podcast, Tiago Rubert detalha seu processo criativo, que vai da atuação à escolha de enquadramentos e roteirização.


A conversa destaca o princípio do “Nada sobre nós, sem nós”. Tiago não apenas participa, ele decide. Seja na concepção de cenas poéticas — como o diálogo sobre onde a síndrome “mora” (segundo ele, “aqui dentro, bem no fundo”) — ou na coreografia que encerra o filme, sua assinatura artística é evidente e autônoma.

Singularidade Além do Diagnóstico

Um dos pontos altos do episódio é a reflexão sobre as diferenças dentro da própria diferença. O filme e a conversa abordam a convivência entre Tiago e seu tio Cléber, que também tem síndrome de Down, mas pertence a outra geração e possui outra vivência.


Jonatas e Tiago discutem como o filme evita a infantilização e o estereótipo do “anjo”, optando por mostrar as tensões, as microagressões do capacitismo e a realidade nua e crua. A mãe dos diretores é citada com uma frase que resume a jornada da família: “A gente não é diferente pra ter um filho diferente. A gente aprende a ser diferente a partir disso”.
Card do podcast Pessoas Incluindo Pessoas, EP 10: Cinema, Autonomia e a Singularidade de "Uma em Mil", com Tiago e Jonatas Rubert.

Cinema como Ferramenta de Emancipação

O episódio também explora o processo de “deixar voar”. As filmagens exigiram que Tiago saísse da casa da mãe para morar com o irmão, um passo fundamental para sua independência. Essa jornada pessoal se reflete na tela, resultando em uma obra que defende a estética do documentário e a escuta genuína do sujeito.


Além de “Uma em Mil”, que tem previsão de estreia comercial para 2026, os irmãos revelam em primeira mão o próximo projeto da dupla: um novo curta-metragem baseado nas cartas de amor trocadas pelos pais, reafirmando que a parceria profissional entre eles é sólida e promissora.

Ouça o EP 10 – Cinema, Autonomia e a Singularidade de “Uma em Mil”

Onde você estiver — em casa, no carro ou no parque — aproveite esta entrevista e a potência das vozes de Tiago e Jonatas. Uma aula sobre como o cinema pode ser um espaço de pertencimento e visibilidade.

 

Acesse todos os episódios completos em podcast Pessoas Incluindo Pessoas. Ouça também no Spotify.

Leia a transcrição da conversa

Podcast Pessoas Incluindo Pessoas  - Segunda temporada - Episódio #

Podcast – “Pessoas Incluindo Pessoas”

Episódio 10

Convidados:

Jonatas Rubert e Tiago Rubert

 

Val Paviatti

Queridos ouvintes,
no episódio de hoje, em celebração ao Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, recebemos Tiago Rubert, pessoa com síndrome de Down, e seu irmão Jonatas, diretores do documentário “Uma em Mil”, premiado nos festivais do Rio e de Gramado.

Eles nos ofereceram uma conversa sensível e cheia de possibilidades sobre cinema, identidade e convivência. Convidamos você a ouvir Tiago com atenção e respeito: suas experiências e seu modo de narrar o mundo enriquecem este episódio e toda a trajetória do Pessoas Incluindo Pessoas.

Onde você estiver, em casa, no carro ou no parque, aproveite esta entrevista e a potência das vozes de Tiago e Jonatas.

Bom programa e ótima escuta!

 

Vinheta: “Pessoas Incluindo Pessoas”

 

Flávia Cintra

Olá! Esse é o podcast “Pessoas Incluindo Pessoas” do Instituto Paradigma. Aqui é a Flávia Cintra. Eu sou uma mulher branca, de olhos e cabelos castanhos. Eu tenho nariz grandes, lábios finos, olhos pequenos. Estou usando uma blusa de linha salmão, uma calça preta, estou sentada na minha cadeira de rodas com os meus parceiros de jornada, Arthur Calasans. Oi, tudo bem?

 

Arthur Calasans

Tudo bem, Flávia, tudo bem Val, Uirá? 

Eu vou me autodescrever, eu sou um homem branco, tenho a barba e o cabelo grisalho, os dois estão bem curtos. Eu sou um homem branco, tô vestindo uma camiseta preta, uma calça cinza e estou na sala da minha casa. 

E aí, Val, tudo bem com você? Preparada para essa entrevista que vamos fechar essa temporada com chave de ouro mesmo, né?

 

Val Paviatti

Chave de ouro com alguns brilhantes ainda. 

Olá pessoas! Olá Flávia, olá Arthur! Eu sou a Val Paviatti, uma mulher de pele branca, olhos e cabelos castanhos, cabelo encaracolados, uso óculos, hoje estou vestindo uma camisa azul e uma calça jeans. 

E vocês não sabem Flávia e Arthur, hoje é o décimo episódio do podcast “Pessoas Incluindo Pessoas”! (Festejos) 

E pra gente começar o bate papo de hoje, vamos conversar com dois irmãos. Eles fizeram o seu primeiro trabalho junto no cinema, no curta metragem “A diferença entre mongóis e mongoloides”, em 2021. Hoje está disponível online na plataforma “Opdocs”. 

Val

O irmão mais velho, é formado em cinema, e o caçula tem seguido o mesmo caminho, descobrindo a sua própria forma de fazer filmes com total propriedade da linguagem cinematográfica.

Vamos falar muito hoje sobre o filme “Uma em Mil”, que é o primeiro longa-metragem de ambos na direção. E provavelmente, o primeiro filme dirigido por uma pessoa com Síndrome de Down. 

Sejam bem-vindos, Tiago e Jonatas Rubert. Olá, Como vocês estão?

 

Flávia

Oi pessoal, bem-vindo!

 

Jonatas Rubert

Tudo bem? Muito prazer, muito obrigado pelo convite para estar aqui. Eu sou o Jonatas, então vou me autodescrever também. Eu sou um homem branco, com cabelo encaracolado, curto, descolorido, uso barba e bigode, um piercing dourado no septo e estou com óculos arredondado, e camiseta preta. E a gente está aqui, tô junto, ao lado do Tiago, o meu irmão. A gente está aqui numa ilha de montagem aqui, que é onde a gente trabalha nos filmes e tal.

 

Tiago Rubert

Eu sou o Tiago, e tenho o cabelo preto assim, e a roupa azul, {tênis} bem azul e calça azul.

 

Flávia

É isso aí. E vocês estão em uma fase, que eu imagino que é muito efervescente, de lançamento desse filme, é a estreia dessa parceria profissional entre vocês. Vocês que tem uma parceria de vida, né? De vida em família, e agora se encontram nesse projeto tão bonito que já nasce premiado. 

Conta um pouquinho desse trejeto pra gente, Jonatas? 

 

Jonatas

Bom, o “Uma em Mil” é um filme que eu sempre quis fazer. Na verdade, sobre uma temática que eu sempre quis fazer. Esse filme eu não tinha ideia, que um dia seria possível da forma como ele aconteceu, assim. Mas eu sempre quis fazer um filme sobre a Síndrome de Down desde que eu estava na faculdade assim, então há mais de 15 anos eu tenho essa vontade.

E há nove anos atrás, pela primeira vez, eu escrevi um projeto da minha ideia, muito, mas muito inicial, que quase não tem a ver com o que virou filme depois. Mas as primeiras, primeiras palavras sobre o filme, o título do filme, título surgiu nesse primeiro momento. 

No momento em que o Tiago ainda era adolescente, é, e eu ainda estava amadurecendo muitas ideias, inclusive sobre a deficiência.

E pra minha sorte, no primeiro momento o projeto não deu certo. Que também possibilitou a gente seguir trabalhando nele né, e começar a agregar cada vez mais pessoas. E em pouco tempo o Tiago também foi amadurecendo, e enfim, na pandemia principalmente, a gente trabalhou mais juntos nesse projeto. Foi quando a gente fez o curta, “A diferença entre mongóis mongoloides”, e aí o Tiago veio também pra dirigir esse projeto, além de ser parte do elenco do filme, veio pra dirigir, roteirizar esse projeto junto. 

Então é isso, a gente levou nove anos pra fazer o filme. Agora ele está nessa carreira de festivais, ele está cumprindo esse circuito de festivais, que tem sido muito bom né, a gente tá muito feliz, na verdade, a gente tá muito surpreso assim. A gente imaginava, que a gente sempre confiou no filme, mas então a gente imaginava que ele fosse ter uma carreira. Mas ela está muito, muito mais interessante do que a gente podia imaginar assim né. A gente ganhou três prêmios no Festival de Gramado, fomos pro Festival do Rio, que a gente não achou que teria a chance de entrar. E não só entramos, como ganhamos melhor filme na mostra “Novos Rumos”, que é uma mostra superimportante, enfim, para a gente é, brilhante assim ter chegado lá sem conhecer ninguém, ninguém nos conhecia, assim, as coisas foram acontecendo. 

Então a gente tá agora nesse momento também, e também preparando para fechar o circuito de festivais e partir para o lançamento em circuito comercial de cinema do filme.




Val

Só pra vocês terem ideia, Flávia e Arthur, eles participaram do 53º Festival de Gramado e levaram três Quiquitos pra casa, o de melhor direção, melhor roteiro, melhor montagem. 

No Festival do Rio, como o Jonatas falou, o 27º Festival do Rio, eles levaram a premiação de melhor longa-metragem, e foram super aplaudidos no Frapa, no Festival de Roteiro Audiovisual da América Latina.

 

Flávia

É um sucesso né! E a que vocês atribuem todo esse sucesso? O que que tem de diferente no “Uma em Mil”, que está chamando tanto a atenção? 

 

Jonatas

Que que tu acha né?

 

Flávia

Sobre o que é o filme Tiago? 

 

Tiago

Ah, assim, ó, fala filme Down, é. Fala Down, eu sou Down e tio é Down. É assim. É ali família, mãe, vó, com mães cuidam, filme fala assim.

 

Flávia

É um filme que discute como é ser uma pessoa com síndrome de Down e estar inserido numa família, né? O tempo todo vocês falam e, e refletem sobre o papel da família e a relação entre os membros da família. Vocês provocam reflexões, não óbvias pra maioria das pessoas. É isso, era essa a intenção Jonatas? 




Jonatas

Sim, sim, sempre foi assim, a gente tem, bom o filme parte desse, desse, eu e o Tiago tentando entender as diferenças entre a gente, que podem ou não ter a ver com a síndrome de Down, né?

E o Tiago traz essa ideia, e trouxe muitas outras né? Isso tudo foi, isso tudo foi roteirizado, foram coisas que a gente conversou, elas vieram em conversas, a gente roteirizou, e encenou pra câmera né, então assim, o Tiago traz no filme, essa, essa ideia de que ele nunca trocou uma lâmpada, e a gente começa a se perguntar, os dois né, por quê? Traz a nossa mãe pra conversa, e leva isso pra, depois, pra família e para outros lugares. E, mas tem essa coisa de pensar o tempo todo como uma mesma família, a gente tem uma família grande, ok, mas é a mesma família, uma família próxima. Como dentro dessa mesma família, cada pessoa lida de uma forma completamente diferente com a Síndrome de Down, inclusive as duas pessoas da família que tem síndrome de Down.

É, e as diferenças são muito grandes. A gente foi fazendo o filme e se dando conta que essas diferenças eram maiores do que a gente imaginava, assim, antes de começar a filmar. E acho que isso é uma coisa que tem sido muito forte assim, todas as vezes que a gente exibe o filme, inclusive algumas pessoas não tem gostado disso assim. 

Em algum, em todos os debates que a gente fez do filme até agora, pelo menos uma pessoa vem no embate, geralmente é um familiar, é uma mãe e tal, vem no embate, “Ah, mas por que vocês deixaram no filme tais termos, que são antiquados? Porque vocês deixaram no filme, tal conversa aqui?”. Enfim. E aí a gente sempre, isso obviamente, uma coisa que a gente pensou o tempo todo fazendo filme, mas é, eu acho que vem, vem muito de tentar não julgar o que está sendo dito. A gente sempre pensou muito mais nas ações dessas coisas, mas assim, esse não é um filme para familiar de Síndrome de Down. Não é um filme para quem já está por dentro desse assunto. Ele é um filme, sempre teve muito isso em mente de tentar alcançar públicos que não têm a menor ideia do que é isso, nunca conviveu. E tem um desconhecimento sobre o assunto. Bom, aí assim, essas pessoas usam esses termos, né? 

 

Val

Tiago, e uma das críticas que eu li sobre o filme, diz assim, “O filme opta por expor as micro agressões do capacitismo”. É bem isso mesmo, né? É a provocação? 



Jonatas

Tensões que o filme provoca nisso?

Assim, essas coisas do porquê que tem coisas que eu, que eu faço, coisas que tu não faz, ou ao contrário. 

 

Tiago

É assim, meu irmão não faz, com eu não faz, é assim, filme fora, dentro [da cena], atrás, na frente e atrás [da câmera] eu fiz.  É assim.

 

Jonatas

Em frente e atrás das câmeras, né? 

 

Tiago

É isso. 

 

Arthur

Jonatas e Tiago, desculpa interromper, mas eu vi um filme extremamente delicado, principalmente no que diz respeito ao tema. 

A gente está em 2025, esse podcast nasce exatamente dessa questão, como que ainda hoje a gente tem questões como gente discutindo educação inclusiva, é a gente discutindo a acessibilidade, a funcionalidade, o modelo de compreensão da pessoa com deficiência, o modelo social versus modelo biomédico. Então a gente tem pessoas defendendo questões. Eu vi o filme numa defesa pela singularidade do sujeito e pela potencialidade do sujeito. Eu tenho um diretor, um menino como o Tiago, que nasce, que está no teu colo, Jonatas, que ainda é uma criança que não sonhava em ser diretor de cinema, mas é um menino que nasce e tem o seu desejo respeitado, tem o seu lugar respeitado, pelo que ele gosta, pelo que ele é. Então, isso vai sendo construído dentro da família de vocês.

Então eu vi isso muito delicado, eu vi isso muito forte. Eu acho que isso deve realmente incomodar algumas pessoas e incomodar no sentido de trazer a elas questionamentos né, principalmente no caminho que está sendo traçado. Se são famílias que têm filhos com deficiência, pra questão do, do abrigo, do exagero, de tá muito em cima dessa criança, de não respeitar sua autonomia.

Arthur

E eu fiquei com uma questão na cabeça, que é, você já deve ter percorrido festivais e devem ter tido embates, como você mesmo disse, mas é, o que a gente diz para uma família comum? Uma família que tem um menino de dez anos, é, que está no ensino fundamental, seja ele um menino com síndrome de Down. Mas o que que você Tiago, diria para uma família? É, deixa viver, deixa ser feliz, vamos respeitar a singularidade. O que você falaria Tiago? Eu fiquei com essa pergunta, eu queria muito ouvir de vocês dois, da mãe também, se a mãe quiser falar, que tá aí. É, o que a gente fala para a família? Essas que ficam questionadas e incomodadas com o filme, ou, é, o que que a gente diria para elas em 2025, hoje né, sobre, sobre singularidade, potencialidades, inclusão, enfim, sobre tudo isso que o filme traz? 

 

Flávia

Deixa eu só pegar um gancho antes de vocês responderem. É, por que o Arthur tá falando sobre singularidade, né? E eu vi também no filme, vocês conseguiram retratar de um jeito muito sensível e genuíno esse respeito a singularidade, quando na mesma família, na família de vocês, tem duas pessoas com síndrome de Down! Um tio mais velho, e depois chega o Tiago, e, e o Tiago não, não vive uma reprodução do que foi feito da vida do tio. Ele nasce com uma identidade individual própria, e dentro desse contexto, desse núcleo familiar né, a gente tem imagens belíssimas de arquivo de vocês, acho que feitas pelo seu pai, né? Da infância, e esses registros eles vão o tempo todo reforçando a identidade do Tiago, que era menino que gostava de subir lá quase perto do telhado, que gostava de dançar, que fazia gracinha no dia do aniversário pra câmera antes de cantar parabéns. Então, eu achei muito importante e, eu achei muito importante reforçar, acho muito importante o jeito que vocês conseguiram reforçar essa singularidade. Isso foi intencional? 

 

Jonatas

Sim! Com certeza. Tem algumas coisas que a gente sempre conversou foi como reforçar as diferenças que existem mesmo dentro da diferença né. Então, assim, a gente está falando de uma diferença que é a síndrome de Down, beleza, mas assim, o meu irmão, pra mim é outra existência completamente diferente do nosso tio Cléber. Então a gente sempre pensou em tentar marcar o quanto isso é, e assim, pra bem e pra mal, né? O quanto isso é interessante e ao mesmo tempo, às vezes é uma questão ruim pra eles, né? 

Jonatas

Acho que muitas vezes, principalmente para o tio Cléber que nasceu no interior, com menos informações, com menos acessibilidade, com menos, em uma outra época também, é, eu acho que isso também tem questões ruins que vem junto, mas ao mesmo tempo é isso, ele tem uma rotina, ele tem uma vivência, ele é uma pessoa completamente diferente, ele gosta de coisas diferentes, ele, né, que é o mais comum são sempre as pessoas falarem, ah, porque a gente tá, como é que é? Falar de Síndrome de Down são todos muito amorosos, são todos uns anjinhos, são todos muito carinhosos, né? Assim, que ranço desse tipo de fala. Porque tira totalmente a individualidade de um ser humano assim que tira, tira o ser humano desse ser humano quando você faz isso, e acho que a gente tentou o tempo inteiro correr dessa, desse tipo de pensamento, assim.

Outra coisa que aparece muito no filme, uma das falas mais bonitas do filme pra mim é uma fala da nossa mãe, que ela fala, e aí indo pra essa ideia de que talvez a gente poderia dizer para essas famílias assim né, tem uma fala muito bonita da mãe, e acho assim, deveria receber um honoris causa de filósofa depois dessa fala, que é quando estamos falando sobre a ideia de especial e a mãe diz “não, essa ideia não tem nada a ver”, e tal. E aí tem um tio que fala, “não, acredito que filhos especiais vem para mães especiais”. E a mãe “não, isso não combina”, e tal. E aí ela vai para um outro momento de pensamento e aí, claro, no filme está junto, mas na gravação foi em dias completamente diferentes, onde a mãe estava sozinha no outro dia com a família, e tal. 

Mas inclusive o filme, por ser um processo longo, vai amadurecendo isso na gente. A gente vai mudando de ideia durante o filme também e várias coisas. E a mãe também diz, e aí ela vem com aquela fala “a gente não é diferente pra ter um filho diferente. A gente aprende a ser diferente a partir disso”, né.

E eu acho que isso é uma, parece simples, mas não é assim, tem muita coisa aí, né? Então, assim, a gente não está falando de uma coisa fácil, né? Ok. Mas a gente tem, é uma experiência completamente nova, pessoas têm filhos e sempre, nunca vai ser a mesma coisa, né? Então, acho que assim é entender que viver é viver e lidar com essas coisas que surgem assim.

Não sei, que que tu quer completar irmão?





Tiago 16:39

E assim, meu irmão tá certo, coisa tudo. A mãe fala na cena assim: irmão e irmão, Down, sem Down. E meu irmão sem, só eu com. Aí qual ali, quer ou não quer irmãos Down? Aí?

 

Jonatas

E nessa hora nossa mãe, diferente dos nossos tios que estão ali presentes e primos, nossa mãe diz “não, eu gostaria de mudar essa realidade se eu pudesse, né? Porque a gente está frente a um mundo em que as pessoas com Down são tratadas de uma forma específica”, enquanto né, aí assim, nossos tios também. É aí que eu digo que as pessoas lidam de formas muito diferentes, mas não necessariamente nenhuma delas está errada né? Eu não posso dizer que qualquer um daqueles jeitos está errado. É a partir da vivência de cada uma daquelas pessoas, e a gente vai a partir do confronto entre essas ideias tentar criar perguntas maiores né, ou perguntas que possam ajudar tanto a gente quanto outras pessoas que assistiram ao filme a, enfim, não sei se entender, mas acho que ajudar a lidar mesmo, formas de como eu penso sobre isso, de como eu me porto frente a isso. 

 

Flávia

É a vida como ela se apresenta no contexto de cada pessoa, em cada família. E eu achei muito corajoso o modo como vocês discutiram nesse momento sobre, se você pudesse escolher? Seria diferente? E cada um do seu modo, a partir do que sente, se expor, mas sempre respeitando o lugar de fala do Tiago.

Desde o princípio até o final do filme, a gente percebe que é uma parceria verdadeira. Você ali, no seu papel, Jonatas, e o Tiago no dele e… numa, numa dupla complementar né, de um, de cada um fazendo o seu papel e discutindo e validando ideias um com o outro. E muitas vezes o Tiago dando uma direção que só podia mesmo partir dele, que é o que, nós pessoas com deficiência, reivindicamos há tanto tempo, “o nada sobre nós, sem nós”. A respeito da nossa vida, da nossa existência, das nossas necessidades, nós sabemos e temos voz e queremos exercitar essa voz. E o Tiago exercita isso o tempo todo, de um jeito autônomo, livre e apoiado! 

Você também tem um papel de mediação nesse processo? E como que é? 



Jonatas

Eu acho que foi, foi bem natural na verdade, não é irmão?  Foi assim, tipo a gente foi fazendo…

 

Tiago 19:21

Meu papel é ator. Assim, é? Só eu fiz ator filme, escada, minha mãe cai, é assim. Só eu fiz. Aí tem, só eu fiz tudo ator primeiro, até escada mãe cai. Tudo assim, ator dentro da cena, tudo e fora eu. Assim, tem ator dentro. E tem atrás câmera, só eu sai. É assim. 

 

Flávia

Mas é tudo combinado antes né, vocês conversaram antes e planejaram isso juntos. Foi isso Tiago? 

 

Tiago

Sim. 

 

Flávia

Cada cena foi pensada e discutida entre você e o seu irmão? 

 

Tiago

É. 

 

Jonatas

Conta de como tu planejava as cenas, a câmera e as coisas. 

 

Tiago 20:28

Fui eu tudo, bota a câmera em qual canto, tem assim, só eu fiz tudo assim, parte por parte, arrumou a cena, só eu fiz roteiro, só eu fiz. É assim, tudo fala filme, tudo ali, tem parte cena, tem roteiro canto assim, tudo ali.



Arthur

Eu, eu estou curioso, aproveitando que você está falando das cenas Tiago, e da montagem das cenas, da escolha dos quadros, da forma como você usava a câmera, na cena em que vocês dialogam com a câmera, um olhando pro outro, sobre um tema extremamente profundo que é ter ou não ter Down? Que é como que você se vê no outro, como é que eu me vejo em você? Que é essa existência que vocês criaram na família de vocês. Eu achei belíssimo. Achei essa parte do filme assim, emocionante, e eu queria saber como é que vocês tiveram essa ideia, como é que foi esse, esse papo? Eu vi um diálogo entre irmãos ali, da mesma forma que você e seu tio depois dialogam na estrada, caminhando, e também achei um diálogo profundo ali, do tio com, com o sobrinho.

Mas como é que foi essa escolha desse diálogo, você segurando a câmera gravando Jonatas, e o Jonatas segurando a câmera e gravando você, e vocês perguntando sobre ser ou não ser Down, sobre a sua existência né? E aí, de novo, você empresta para a gente o teu olhar e a tua existência. E no, e no de novo nos dá essa possibilidade que a sua mãe teve de dizer que é esse lugar de, de saber ser diferente, né, de, desse lugar da diferença.

Como foi essa, esse, essa escolha, por esse momento de gravação, foi difícil? Como é que você, você diz para a gente? Como é que vocês tiveram essa ideia?

 

Tiago

Fui eu fiz ideia tudo, é, eu fiz tudo. E parte minha equipe ajudou bem, meu irmão ajudou eu e tudo. Só ele coisa, só eu bata assim, parte no quarto, eu. Aí… 

 

Arthur

E você fala que é com o coração Tiago. Você fala é aqui dentro, é do coração. 

 

Tiago

Ah, assim, só eu falou filme assim, “fora e dentro”, assim é? Com Down tá aqui dentro, be no fundo, é? E fora não. Assim eu falou no filme. Só eu quero sair, é? Aí tá aqui dentro Down e parte fala é verdade pra mim, eu falou, é? É ali. Só a cena é top! Ali eu…

 

Flávia

Essa cena é muito boa mesmo! 

 

Arthur

Eu achei lindo! Achei lindo! A escolha estética, a dupla que vocês fizeram, esse diálogo entre irmãos, achei realmente belíssimo, maravilhoso, profundo e isso deve realmente causar questionamentos e deve bagunçar a cabeça de muita gente assim, porque, quando você fala é do coração, é de dentro, mas fora não, é, e a gente passa aí por diversos temas né, sobre preconceitos, sobre, é, como eu vejo o mundo, como o mundo me vê. Então há diferentes desejos aí que começam a ser traduzidos por nós que está do outro lado da tela assistindo a obra de vocês é muito legal, muito bom. 

 

 Val

Ainda falando com o Tiago. Tiago, não sei se vocês sabem colegas, além dele ser o diretor, roteirista, ser ator também no filme, ser dançarino, ele também tem uma banda que toca violão. É isso mesmo, Thiago, que você mais gosta de fazer nesse mundo da arte?

 

Tiago

Ah, só eu fiz tudo você falou, é. Só eu tem a banda, é? E tem a banda chama Down Boys. Aí tem eu e meus amigos com Down, assim, uma pessoa fala no meu filme, é Gustavo, é Down assim, fala lâmpada assim. Só eu com ele tem a banda Down Boys. E só ali. Tinha, só tem, tinha. Aí agora não tem mais assim. 

 

Arthur

O Tiago, a cena da dança com as escadas é sua também? Aquela, aquela dança que você faz com as escadas, aquele momento que é, é um fechamento, é aquele, aquela ideia de quem trocou a lâmpada e trocou a lâmpada, e a gente ficou na curiosidade para saber que depois vocês revelam, que você tinha sim trocado a lâmpada aos 16 anos. Mas quem pensou aquela cena? Você que pensou aquela cena?

 

Tiago

Fui eu, fui eu assim, fui eu tudo, só eu sim. Só sim, é? Lâmpada casa sim, tenta sim. Uma vez só. Aí só você falou sim a dança, com eu assim é a dança “tum” assim. E parte equipe assim e vem luz eu. Aí desce tudo eu, é ali. 

 

Jonatas

E a coreografia, a coreografia toda criada pelo Tiago. A gente, né, teve ajuda depois de uma coreógrafa, que essa dança foi feita em alguns momentos, né, a gente na, aquele primeiro momento que ela aparece, que é quando a gente que, que o Tiago tá com uma fantasia de anjo ali, para fazer essa brincadeira, esse primeiro momento foi uma surpresa total para toda a equipe assim, o Tiago, a gente tinha combinado de o Tiago fazer uma, enfim, uma surpresa para a gente preparar alguma coisa que ele tivesse a fim, que ele quisesse. 

E aí, ele se escondeu num quartinho da casa da nossa mãe, a equipe preparou a câmera, deixou tudo pronto. Aí ele, só me avisa quando eu puder sair. A gente avisou, ele saiu com aquela roupa, a gente não tinha visto nada, saiu com aquela roupa, fantasiado de anjo e fez aquela dança já. 

Depois quando, a dança repete duas, a gente repetiu três vezes né. Depois tem uma vez que é na rua, outra vez é no quarto e tal, sem dar muito spoiler do filme, mas enfim. Quando a gente chega no final do filme, a dança se repete, o Tiago aí teve ajuda de uma coreógrafa, que é a Bianca Bueno, que estava ali auxiliando, mas a criação da coreografia é toda “by Tiago”, assim!

E aí várias pessoas da equipe foram colaborando né. Eu tinha feito esse link da escada com a coisa da lâmpada lá pra o início. E aí outra pessoa da equipe, a Gabriela, que fez direção de arte, “tá, e se a gente criar uma junção de muitas escadas”, e aí começou a ter uma ideia assim, juntando uma coisa com a outra. 

 

Flávia

Do jeito que é, que é qualquer trabalho coletivo, né?

E sempre com muito, e sempre com muita mensagem embutida, sempre com muita intenção, que coloca a gente pra pensar, e sempre respeitando o ponto de vista dele. 

Isso que eu acho que é o que nos trouxe tanta vontade de estar aqui batendo esse papo com vocês, esse respeito e essa admiração por um trabalho artístico, sensível, com uma estética que faz os nossos olhos brilhar, mas com uma mensagem que sai da superfície, sai do óbvio, e amplia o olhar de quem assiste, pra essa questão da individualidade, e da representatividade, e da possibilidade do protagonismo, quando a gente tem o recurso, a mediação, o acesso necessário. Vocês conseguiram fazer tudo isso aparecer com muita transparência nessa obra. 

 

Jonatas

Ah que, deixa a gente emoldurar essas coisas que você falou pra botar na parede! É muito bom ouvir isso… 

 

Flávia

Ah, mas vocês devem… 

 

Jonatas

Tá…

 

Flávia

Vocês devem estar ouvindo isso pelos festivais por onde passam. E quando depois do lançamento do filme, aí vai ser uma avalanche né? 

E imagino que também muita, muita, muita fala incomodada. Porque tira a gente do lugar de conforto mesmo, do lugar que a gente tá acostumado a ver. Eu particularmente acho isso maravilhoso! 



Jonatas

É, a maior parte das pessoas, na verdade, se emociona muito, e eu acho que essa emoção às vezes vem do incômodo né? Também!

E algumas é isso, geralmente tem uma pessoa no debate que vem pra um embate assim né, um pouco, um pouco mais duro. 

 

Flávia

E tem uma coisa também da relação com a mãe. E mexeu muito comigo, porque eu tenho filhos adolescentes assim, meus passarinhos estão aí, forte, se preparando pra decolar. Eles vão voar daqui a pouco. E dói! É muito difícil deixar voar. 

E quando você tem um filho com deficiência, eu imagino que, agora falando do ponto de vista de mulher, mãe, quando você tem um filho com deficiência, na minha fantasia que eu fico imaginando, que você tem a desculpa perfeita para segurar embaixo da asa. Para segurar um pouco mais, pra não deixar ir embora. 

E vocês tratam disso também com muita maturidade. Os diálogos também esfregam na nossa cara, é, esse outro ponto de vista da relação, que também é tão profundo, delicado e difícil de lidar. O filho cresceu, ele tá pronto para o mundo. Ele não quer mais ficar o tempo todo com o você, ele quer enfrentar outros desafios, aprender coisas novas, realizar o seu sonho. E o Tiago parte pra essa jornada com você. E aí, a culpa é sua, né? Né Jonatas, você… você tirou o Tiago da mãe? 

 

Jonatas

É, a culpa é minha! 

Não, o engraçado disso é que foi assim, a mãe, todo aquele texto da mãe no filme dizendo que ficou muito triste e tal, depois que o, que o filme terminou, a gente terminou de gravar, é, a gente conversou e a mãe disse, “ah não, as semanas foram difíceis, mas depois ficou um pouco mais tranquilo”. E aí, quando o Tiago foi sair, que o Tiago foi morar comigo, e quando o Tiago foi sair da minha casa pra ir embora, eu fiquei daquele jeito. 

Aí eu fiquei triste! E o, mas a coisa interessante também, e aí, enfim, também não sei se tu quer falar?

 

Mãe

Não, pode falar! 

 

Jonatas

Não, porque eu tenho enfim, sobre a relação maternidade não tenho que comentar, mas o, uma coisa que foi bem legal, desse distanciamento, é que a primeira vez, eu conheço o Tiago há 26 anos, né? Desde que ele nasceu. E a primeira vez que eu conheci o Tiago sem estar na presença da mãe por tanto tempo. 

Nunca aconteceu mais do que, assim, dois dias. Ele, né, vem, vem muito pra cá comigo, às vezes tem outros lugares, então. Mas foi mais de um mês né. Foi um bom tempo dessas gravações, onde às vezes eu também não estava junto, onde às vezes o Tiago e o resto da equipe, enquanto eu tinha outras coisas pra fazer, outras demandas da vida, o Tiago tinha que continuar dirigindo o filme, que é o lado bom de ter dois diretores também. E, e aí a gente acha que se, se reconheceu de uma outra forma nesse momento, acho que tanto eu conhecendo o Tiago, quanto ele pra mim, porque é um outro espaço né, a gente está lidando com outras coisas, a gente está aqui fazendo um filme que envolve muita gente, envolve dinheiro, envolve uma demanda intelectual que a gente quer passar adiante. Então, assim, acho que tanto Tiago quanto eu, a gente olhou para o outro e viu outras coisas que a gente nunca tinha visto. Eu acho que isso aconteceu assim nesse período. Tu acha?

 

Tiago

Pode falar tudo outra parte? 

Assim, só eu tem duas parte: só eu tem empresa meu filme, aqui cinema, Uma em Mil é meu empresa, só eu tem… Só eu tem é hotel Ibis, eu tá lá, hotel Ibis é Guaíba, tá? Eu tô lá quatro anos eu tô lá. Quatro. Tem isso. Aí só eu tem duas empresa, lá e aqui. Só é ali. Eu tô medo eu, assim ó, só tem vó assim, tem outra vó assim… 

 

Arthur

E Tiago, qual foi o maior medo de sair de perto da mãe?

 

Tiago

Ah, eu tô livre assim. Meu irmão fala do medo minha mãe. “Ah, tá bom assim” só eu falou filme. Tá bom, só isso.

 

Arthur

Como foi dar esse passo para sair de perto da mãe? Eu sei que você vai para junto do Jonatas, que é teu irmão, que te conhece, mais que aí foi uma relação nova, mas é desse, como é que foi dar esse passo assim? E, e dar de cara aí com esse mundo, e, e o que que você viu, que te agradou, que não te agradou, que que foi mais difícil pra ti?

 

Tiago

Só eu fiz bem difícil é filme, é? 

 

Arthur

É! Pra fazer o filme. Ir pro mundo pra fazer o filme né? 

 

Tiago 36:00

É, tem, tá bem difícil. Só eu é diretor e meu irmão tá set [de filmagem], assim é? Tá… Só eu assim: só respira, meu equipe tá lá e tudo. Só isso eu, só respira eu, só tudo certo, só ali bem na frente e festival. 

 

Flávia

É isso aí.

 

Arthur

Respira e entrega pra equipe né?

 

Tiago

É!

 

Flávia

Respira que vai dar tudo certo!

 

Arthur 

Vai dar tudo certo!

 

Flávia

É isso que tem que fazer na vida, né? 

 

Val

E falando em equipe, vendo a ficha técnica de trabalho Jonatas, eu vi que o Daniel Gonçalves é um dos produtores, e também já participou conosco aqui no sétimo episódio do podcast. Como que foi esse contato com o Daniel? Como é que as coisas aconteceram? 

 

Jonatas

É, bom, eu além de diretor sou montador também né. E eu conheci o Daniel em 2018, se não me engano, quando ele estava lançando “O meu nome é Daniel”. Ele, a gente já se conhecia de nome, porque a gente é de uma associação de montadores aí, a EDT. E eu, a gente se conheceu nesse espaço. Ainda, quando ele lançou “O meu nome é Daniel”, eu assisti ao filme, eu enlouqueci.

Eu disse assim, “meu Deus, eu preciso conversar com ele. A gente está querendo fazer uma coisa muito parecida. A gente tem que trocar essa ideia!”. E a gente entra em contato. A gente começou a tocar as primeiras ideias, falei pra ele sobre o “Uma em Mil”, e, e na pandemia a gente montou um grupo assim, entre seis amigos, todo mundo remoto, pra falar sobre o documentário, assistir documentários no cineclube, no cineclube online de documentários.

A gente foi se encontrando cada vez mais. Nesse meio tempo, a gente ganhou um edital para fazer o curta “Diferença entre mongóis e mongoloides”, e convidamos o Daniel para ser consultor do filme. 

Em seguida, rolou, começou a rolar as oportunidades para o longa, “Uma em Mil”. Quando isso aconteceu, a gente disse pro Daniel, tu não quer manter essa parceria e tal. Ele disse, cara, eu acho que eu quero ser mais do que consultor, vamos conversar. 

Aí ele propôs essa coprodução e a gente obviamente topou né, porque tem tudo a ver. E assim, já tinha uma troca muito boa, então foi bem, enfim, foi, foi feliz assim, uma proposta muito feliz, a gente recebeu muito bem. E aí, daí pra diante o resto é história. O Daniel veio para Rio Grande do Sul, veio aqui no set com a gente, acompanhou o filme. Então foi bem massa assim. 

 

Val

Que legal.

 

Flávia

Muito bom! Gente olha, nosso tempo já estourou, né?

 

Val

Há não, não, espera um pouquinho Flávia! Flávia e Arthur não!

O Jonatas tem que falar pra gente assim, dos próximos projetos. Fiquei sabendo que você e Tiago já estão com o projeto aí, já pra sair da gaveta. É isso mesmo?

 

Jonatas

Sim! A gente está no meio, na verdade a gente estava onde? A gente estava terminando a finalização do “Uma em Mil”. Tava fazendo a correção de cor ali do filme, e a gente ganhou um novo edital para fazer um curta metragem.

Dessa vez um curta que não é sobre a deficiência, mas que o Tiago também vai dirigir junto. E é um filme que é a história de amor dos nossos pais, ele pelo menos parte daí assim. Ele é uma, é uma espécie de festa, esse, esse bloco de filmes sobre família e que a gente tem feito.

 

Flávia

Que coisa mais linda!

 

Jonatas

E parte de coisas que a produtora, quando estava fazendo o “Uma em Mil”, a gente foi muito atrás das fotos e arquivos da família, a produtora estava ajudando nesse garimpo, e no meio ela achou um bolo de cartas que nosso pai mandava para nossa mãe quando eles namoravam.

E a gente guarda isso, e não, pera aí, isso aqui em algum momento vai dar alguma coisa. E aí a gente, quando, quando surgiu o edital, a gente começou a escrever essa história desse curta. Enfim, essa é a história do namoro deles até o casamento, assim, que começou a distância até casarem. 




Val

Eu acho que vale dizer, que “Uma em Mil”, é, às vezes as pessoas estão ouvindo e vão pensar, nossa, deve ser um filme assim, triste e aquele toque. Não, é um filme alegre, é um filme que fala de família, é um filme que fala sobre superação, é um filme para todos assistirem. E ninguém vai sair triste depois da sala de cinema, correto? 

 

Arthur

É um filme que defende o documentário. Porque é um filme que escuta. É um filme que trabalha nessa veia da escuta, do olhar, da estética, dessa linguagem, do documentário. Então eu vi muito essa defesa do documentário, eu vi muito, tem o Daniel aí como coprodutor. “O meu nome é Daniel”, também enlouqueci quando assisti. 

 

Arthur

É belíssimo também, mas eu vi também no “Uma em Mil”, um documentário que defende o que é documentário, assim, que defende essa linguagem, que defende essa estética e defende a escuta do sujeito. E aí, falando do Tiago nesse lugar, então é realmente um filme que todos precisam assistir, todas as pessoas. É isso!

 

Flávia

Com esse convite a gente se despede do episódio de hoje, agradecendo demais e desejando todo o sucesso do mundo pra “Uma em Mil”, e para as próximas produções que vocês já estão planejando juntos, Jonatas e Tiago, muito obrigado! Sucesso para vocês. 

 

Jonatas

A gente que agradece demais! Espero que, enfim, a gente possa se reencontrar por aí, seja no lançamento do filme. Espero que a gente consiga…

 

Flávia

Com certeza!

 

Jonatas

É! Espero que a gente consiga andar muito pelo país aí com o filme, nem que seja botando debaixo do braço de cidade em cidade, fazer as pessoas verem, é, porque é isso, a gente de fato, muito modéstia a parte, a gente acredita muito no filme, assim. Não é para ser um filme pesado de fato, né. Ele é para ser um filme, a gente brinca com todas essas questões também, e a gente também fala sério, a gente também né, então, como, como é, como são os filmes que eu mais acredito. Filmes que fazem rir e chorar ao mesmo tempo, e sair para outras, outros lugares do pensamento. 

 

Flávia

Então a gente se vê em breve. Obrigada gente! Um beijo!

 

Val

Tchau, tchau, até breve. (Despedidas)

 

Flávia

Obrigada Tiago! Adorei te conhecer Tiago.

 

Mãe

Tchau. Muito obrigada!

 

Flávia

Obrigada. Parabéns, parabéns!

 

Arthur

Vamos fazer um convite pro filme gente?

Tiago quer fazer um convite? Jonatas, querem fazer um convite vocês aí para o filme, para assistirem? 

 

Tiago

Ah, só eu quero. Assim, é primeiro só tem festival é Rio Grande, sim, e depois é lá é cinema e depois tá livre fechar a rua. 

 

Jonatas

Vamos fechar a rua e passar o filme! 

E o filme deve estrear em agosto, no final de agosto de 2026, nos cinemas, no máximo de cinemas que a gente conseguir com o dinheiro que a gente tem. Então vai ser isso aí. 



Jonatas

E que tenha muitas sessões até lá, agora como o Tiago falou, tem Rio Grande e também tem, esse mês ainda tem o Festival de Cinema Latino-Americano de Rio Grande e o Festival de Cinema de São Bernardo do Campo, que também vai exibir o filme ainda em novembro, é o que gente tá tentando.

 

Flávia

A Val é de São Bernardo, legal! 

 

Jonatas

Há, que maravilha! Então, é isso aí, acho que começa dia 24, se não me engano o festival em São Bernardo. 

 

Val

Ah, eu vou estar atrás, eu vou procurar por vocês. 

 

Jonatas

Eu não sei se a gente vai conseguir ir, mas enfim, o filme vai passar lá, pelo menos.

Obrigado, valeu!

 

Flávia

Obrigada, gente! Obrigada!




Ficha técnica Episódio 10: Cinema, Autonomia e Singularidade em “Uma em Mil”, 

com Tiago e Jonatas Rubert.

Apresentação Flávia Cintra, Arthur Calasans e Val Paviatti,

Edição e Masterização Uirá Vital.

Transcrição Celso Vital e Silva 

Sites e plataformas digitais Rafael Ferraz e Fabrício Valek.