Pessoas Incluindo Pessoas
EP 04 – 20 anos do Instituto Paradigma
EP 04 – 20 anos do Instituto Paradigma
O bate-papo trouxe histórias inspiradoras, destacando o papel do Instituto Paradigma na construção de uma sociedade mais igualitária!
Com relatos marcantes e a participação especial de Luiza Russo, fundadora do Instituto Paradigma, conversamos como a inclusão e a diversidade vêm sendo impulsionadas por iniciativas que fazem a diferença nos 20 anos de atuação do IP.
Um episódio imperdível para quem acredita no poder do impacto social! Curta, comente, compartilhe! Vamos juntos nessa jornada Radiofônica!
Saiba mais sobre nossos convidados
Preparem os ouvidos para a sabedoria e experiência do psicólogo Danilo Namo. Consultor em inclusão econômica e educacional, ele é mestre em desmistificar barreiras e construir pontes para um futuro mais igualitário. Em sua trajetória, já atuou em diversas frentes, desde a gestão de planos de saúde em fundações públicas até a docência universitária.
Além disso, Danilo também dedica seu tempo como terapeuta clínico, mostrando seu compromisso com o bem-estar integral. Em nosso bate-papo, ele compartilha insights valiosos sobre como a inclusão se manifesta em diferentes contextos e como podemos ser agentes de transformação.
Diretamente do mundo da psicologia para o nosso podcast, Fabiano Puhlmann chega para somar com sua visão apaixonada pela inclusão. Especialista em reabilitação física, social e clínica, Fabiano é daqueles profissionais que não se contentam com o óbvio, sempre buscando as últimas tendências e tecnologias para impulsionar a equidade.
Sua passagem pelo Instituto Paradigma, na área de inclusão econômica, deixou um legado de consultorias, abrindo portas para talentos diversos e construindo ambientes de trabalho verdadeiramente acessíveis e acolhedores.
Participação Especial
E para coroar o nosso episódio especial sobre o Instituto Paradigma, tivemos a honra de conversar com a mente visionária por trás dessa história de sucesso: Luiza Russo! Pedagoga, mestre em Psicologia da Educação e diretora executiva do Instituto, Luiza é uma força da natureza quando o assunto é inclusão social.
Com mais de 20 anos de dedicação incansável, ela transformou a antiga Associação Brasileira de Apoio Educacional ao Deficiente (ABAED) no Instituto Paradigma, referência em mobilização e impacto social. Luiza compartilhou a trajetória inspiradora do Instituto, seus desafios, conquistas e a paixão que a move a continuar construindo um Brasil mais inclusivo para todas pessoas!
Não perca este episódio do Pessoas Incluindo Pessoas! Dê o play e embarque com a gente!

Leia a transcrição da conversa
Vinheta
Pessoas Incluindo Pessoas
Flávia Cintra
Olá, eu sou a Flávia Cintra e esse é o podcast do Instituto Paradigma.
Hoje, num episódio muito especial, celebrando 20 anos da fundação do Instituto Paradigma.
Antes de eu apresentar os nossos convidados, com a ajuda da minha parceira Val Paviatti, vou me descrever. Eu sou uma mulher, olhos e cabelos castanhos, pele branca, eu tenho 51 anos de idade e estou sentada na minha cadeira de rodas. Val, vamos já chamar os nossos convidados, mas antes, por favor, se apresente, se autodescreva.
Val Paviatti
Olá Flavia! É muito bom estar com você novamente em mais um episódio do nosso podcast. Eu sou Val Paviatti, eu tenho olhos e cabelos castanhos, uso óculos, pele clara e hoje estou usando uma blusa azul e uma calça jeans.
A nossa primeira convidada é pedagoga e mestre em Psicologia de Educação pela PUC, São Paulo. Especialista em Educação Especial e Reabilitação pela Boston College, Estados Unidos.
Ela também se especializou em gestão de qualidade de vida no trabalho pela FIA USP, também fez MBA em gestão de Recursos Humanos pela FIA USP. Cursou inserção de pessoas com Deficiência no Trabalho, ministrado pela Organização Internacional do Trabalho, em Turim, na Itália. Com mais de 30 anos de atuação na causa da inclusão da pessoa com deficiência, ela é fundadora e diretora executiva do Instituto Paradigma.
Olá, Luiza Russo!
Flávia Cintra
Oi, Luiza!
Luiza Russo
Olá para todos vocês! Eu estou muito feliz de estar participando hoje desse podcast. Antes de qualquer coisa, eu queria fazer uma autodescrição. Eu tenho pele clara, sou uma mulher de 73 anos, tenho cabelos curtos e grisalhos, e uso óculos. E estou muito feliz de participar do dia de hoje.
Flávia Cintra
A Luiza é a grande responsável por estarmos aqui hoje.
Val Paviatti
Exato!
Fabiano Puhlmann
Inspiradora!
Val Paviatti
E o nosso segundo convidado dessa tarde, ele é psicólogo pela USP e mestre em integração de pessoa com deficiência pela Universidade de Salamanca, Espanha. Especialista em psicologia hospitalar e reabilitação pela Faculdade de Medicina da USP, palestrante de temas referentes à inclusão econômica e educacional de pessoas com deficiência.
No Instituto Paradigma, ele coordenou a área de acessibilidade, ajudas técnicas, além de atuar nos programas de inclusão econômica e educacional.
Autor do livro, “A Revolução sexual sobre rodas. Conquistando o afeto e autonomia”. Ele é também, psicólogo em finanças comportamentais. Além de tudo, ele é um grande pesquisador de novas tendências e tecnologia.
Olá Fabiano Puhlmann!
Fabiano Puhlmann
Olá gente! Me alto descrevendo, né, eu sou um homem de 58 anos, estou numa cadeira de rodas, tenho cabelo grisalho, tenho pele branca. Estamos aqui para estar junto com vocês celebrando esses 20 anos de história da inclusão que a gente participou junto com a Luiza, liderando a equipe e todo mundo que está aqui.
Flávia Cintra
Que legal!
Val Paviatti
E o nosso terceiro convidado Flávia, ele é psicólogo e mestre em Psicologia Experimental pela PUC São Paulo. Doutor em Educação Especial pela USP, ele tem sólida experiência como educador na inclusão de pessoas com deficiência. No Instituto Paradigma ele coordenou o projeto de qualificação profissional. Também foi nosso diretor técnico e atuou nos programas de inclusão econômica educacional.
Atualmente, trabalha no Lar Amara e também no NPAS, no Núcleo Paulista de Atenção à Superdotação. Além disso, ele é psicólogo clínico atendendo em consultório particular. Olá Danilo Namo, que bom tê-lo aqui!
Danilo Namo
Nossa, que felicidade!
Flávia Cintra
Oi Danilo!
Danilo Namo
Olá pessoal a todos! É uma honra não tenho outra palavra para descrever esse momento. Eu me autodescrevendo, tenho um metro e 78 de pele clara, tenho 54 anos, alguns cabelos brancos já, e tenho deficiência visual, sou cego, usa a bengala branca. É um prazer enorme estar aqui. Eu estou muito, muito feliz, emocionado.
Val Paviatti
Que bom! E para fechar a nossa mesa, aqui ao nosso lado, o nosso grande parceiro e amigo, Arthur.
Arthur Calazans
Tudo bem, gente? Olá, mais um programa muito bom! Quarto episódio do “Pessoas Incluindo Pessoas”. Eu sou o Arthur, vou me autodescrever. Sou um homem de 48 anos, pele clara, cabelos e barbas, barba comprida, cabelos grisalhos. Estou vestindo uma blusa branca e uma calça preta. Muito bom, muito honrado de estar aqui também e ter pertencido essa história.
Flávia Cintra
Uma história que começou em 2003 e se concretizou com a fundação do Instituto Paradigma em 2004. Mas na verdade, é uma história que tem um lastro anterior, né Luiza? A gente nasce de uma experiência da ABAED, também liderada pela Luiza, mas focada ainda num modelo anterior ao que a gente concebeu no Instituto Paradigma.
Quer dar essa introdução pra gente, Luiza?
Luiza Russo
É uma história antiga. Logo que voltei dos Estados Unidos, fundei, no início dos anos 2000, o finzinho de 99 eu acho. A ABAED que era a Associação Brasileira de Apoio Educacional ao Deficiente. Mas nós funcionamos, funcionávamos ainda num modelo tradicional, onde a ABAED oferecia um trabalho pedagógico educacional para jovens e adultos com deficiência, principalmente deficiência intelectual.
Luiza Russo
Também foi uma experiência inovadora, mesmo no modelo tradicional de escola especial, é porque nós trabalhávamos muito com base nas vivências, nas experiências que esses adultos e jovens traziam né, já tinham uma história de vida e com isso nós conseguimos também trabalhar alfabetização e situações de aprendizagem que foram ganhando uma certa repercussão, que acabou nos levando também a trabalhar na formação de outros professores, e na supervisão e assessoria a outras instituições de educação especial que estavam preocupados com trazer um, vamos dizer, um ar novo e fresco para o trabalho pedagógico.
Flávia Cintra
Essa foi a semente do Instituto, né Luiza?
Luiza Russo
Sim, é! E, em decorrência disso, com a própria equipe que que a gente já tinha formado, nas discussões nós também resolvemos mudar o nosso foco, pensando que nós devíamos sim, era ajudar outras pessoas no sentido principalmente dos profissionais envolvidos com a educação das pessoas com deficiência, porque só assim a gente de fato estaria trazendo algum impacto, né? Não no sentido só de aumentar a novas experiências, fundando outras escolas. E foi aí que surgiu a ideia do Instituto Paradigma, e o nome foi escolhido também em função de uma discussão entre parceiros profissionais que quando eu contava o que eu tinha na cabeça, no sentido de imaginar algo que se multiplicasse entre os profissionais da área de educação especial, que trouxesse de fato a oportunidade, o impacto para a inclusão dessas pessoas na educação regular, um desses meus parceiros de trabalho disse, “Bom, o que você tem na cabeça é um novo paradigma”.
E foi a partir dessa observação que eu falei, bom, então por que não chamar o instituto de paradigma, né? E foi assim que surgiu a escolha do nome também!
Flávia Cintra
Foi nesse momento que eu te conheci, né Luiza? Lá em 2003, nessa fase em que, você com um pequeno grupo ainda liderando um pequeno grupo, concebeu o que seria o Instituto Paradigma. 20 anos se passaram.
Arthur Calazans
Muito legal, muito interessante. Eu queria retomar uma frase que você falou no início Flávia, que é, “Nascemos de uma experiência”.
Arthur Calazans
Para dizer que é desse lugar que eu via muito o instituto, dessa experiência que a gente vivia aqui, o tempo todo, nas nossas relações…
Fabiano Puhlmann
E resgatando, né, eu estava lembrando que assim, eu e a Flávia, a gente se conheceu nos, centros de vida independente, muito lá atrás. E a Flávia também foi um, foi um centralizador das pessoas com deficiência em função do Teleton, que ela era chamada para fazer, para coordenar, e ela às vezes me ligava, “Você conhece alguém assim, conhece alguém assado? Há, eu conheço!”. Então a gente, a gente ia chamando pessoas, um conhecia um, outro conhecia outro. E foi tendo aquela junção de tirar as pessoas que estavam jogadas, sem uma direção, de certa maneira todos fazendo coisas, coisas de superação, mas não coisas de inclusão, coisas de superação né. E que faziam coisas interessantes que as pessoas queriam ver.
Flávia Cintra
Anos 90 isso, né! Vamos contextualizar! É…
Fabiano Puhlmann
E aí assim, o que acontece, e as ONGs. Então o que você tinha? Você tinha um meio social, onde você tinha as sociedades privadas, vão fazendo aquele trabalho institucional. Você tinha um dia no ano que você tinha lá um movimento muito grande, onde as pessoas assistiam, mas elas faziam o que, doações para essas pessoas que precisavam de ajuda.
Então não tinha paradigma novo de inclusão mesmo, não tinha nada disso. E assim o Instituto ele começou já com a ideia de trazer os melhores de cada área, não só de pessoas com deficiência influentes, mas também pessoas profissionais que estavam antenadas com o que tinha lá fora.
Danilo Namo
Foi formando essa rede.
Flávia Cintra
E o mais legal, hoje olhando para trás, né, a gente vê o Instituto praticando o nada sobre nós, sem nós, antes desse lema na ONU existir. Luiza fez questão de trazer especialistas, referências em cada uma das áreas que eram, que são profissionais com deficiência. Isso hoje ainda é novo, mas naquela época foi revolucionário.
Danilo Namo
Mais que novo! É que a gente que tem deficiência, né Flávia? E que convivia com as pessoas com deficiência, quando a gente chegou no Instituto, a gente foi se encontrando, e pelo menos, eu vou falar por mim, eu me surpreendi, caramba quanta gente com deficiência. E não é comum mesmo nos meios, as pessoas com deficiência com esse protagonismo. E isso foi muito legal.
Flávia Cintra
E na liderança, em posição de destaque, realizando. Imagina, gente, eu poucos meses depois de eu chegar ao Instituto Paradigma, eu estava no Fórum Social Mundial. Dando oficina…
Danilo Namo
Bota protagonismo e liderança nisso.
Flávia Cintra
Exatamente.
Arthur Calazans
Foi muito legal isso.
Fabiano Puhlmann
E se sabe o que era legal, que a gente tinha e ao mesmo tempo essa coisa internacional e de estar trazendo o conhecimento internacional para o Brasil e tornando ele palatável. A gente estava também indo lá e para cidades próximas de São Paulo, de trem, de carro, de tal, e trazendo essa, essa mensagem da inclusão. E a gente né, Danilo cego, eu deficiente físico, o Sandro surdo, e outros tantos que foram vindo, né, cão guia, né, entrando nas escolas, entrando nas empresas. Então, era uma coisa assim, que para nós era natural, mas para os outros não era.
Arthur Calazans
Para os outros eram gestos de interrupção. A gente permitia, porque era a experiência ligada a experiência. Então era esse gesto de interrupção, as pessoas iam parar para ver iam parar para olhar, de um outro jeito. Eu percebia isso. A gente chegava numa empresa, eu chegava para fotografar e eu percebia muito esse lugar que a gente nasce de uma experiência, a experiência enquanto parar, interromper mesmo. Olha, se é algo novo que está acontecendo aqui, eu vi, essa…
Danilo Namo
E você registrando isso com muita sensibilidade, literalmente com a máquina…
Arthur Calazans
Com a câmera fotografando esse gesto de interrupção, que é o nascimento do Instituto. Mas desse paradigma, isso estava na cabeça da Luiza, dentro da cabeça da Luiza.
Flávia Cintra
E como nós fomos ousados né gente!
Val Paviatti
Extremamente ousados!
Luiza Russo
Atrevidos! Não só ousados, mas atrevidos! Sim, porque essa questão que vocês trazem, sobre a chegada de vocês dos lugares, que causavam… de fato, assim, impacto é uma grande surpresa, né? Era de fato um atrevimento, porque na hora, na hora em que a gente estava combinando os encontros de formação, havia sempre questionamentos.
“Mas será que o Danilo, que tem deficiência visual, ele vai conseguir controlar um grupo de professores, ou um grupo de gestores? Ou, mas será? Mas será que nós temos condição de receber todas as pessoas com cadeira de rodas? Eu não tenho banheiro adaptado”. Então, assim, a própria chegada do grupo já causava um rebuliço no lugar. Onde as pessoas antes mesmo de serem impactadas pela competência de vocês, no ponto de vista do que vocês iam levando para a formação, é, a gente causava o impacto da leitura do ao redor dessas pessoas. Que não tinha nenhuma preocupação em tornar os seus espaços acessíveis para todas as pessoas de um modo geral.
A gente, eu acho que tem uma coisa interessante que é assim, pessoa de um modo geral, no início dos anos, no final dos anos 90, início dos anos 2000, éramos nós com, com a gente mesmo. Tudo o que era muito diferente era isolado, era de uma certa forma, causava uma estranheza, mas era uma estranheza, eu acho que mais fria até. Não, não tão politicamente correta como a gente ainda percebe.
Que as pessoas ficavam meio desesperadas. “O que eu vou fazer? Como é que eu vou, como é que eu vou interagir com um formador surdo? Com um formador com deficiência visual, e enfim, nossa, como é que eu faço? E se a pessoa precisar de alguma coisa?”. Então esse apavoramento era primeira formação que a gente dava! (Risos)… calma que tudo vai dar certo e tudo vai ficar bem. Porque nós, nós todos, temos o mesmo objetivo, objetivo em comum que é falar sobre esse tema, né?
Luiza Russo
Mas era uma situação muito interessante.
Flávia Cintra
E até engraçada muitas vezes.
Val Paviatti
Essa estranheza, eu lembro que ficávamos todos em um conjunto aqui em São Paulo, de escritório…
Flávia Cintra
Um andar inteiro né?
Val Paviatti
Um andar inteiro. Primeiro éramos picadinhos, daí em três andares, de repente ficamos todos de um só andar. E ali nós tínhamos aproximadamente 50 pessoas, diretamente dentro do escritório, todas deficientes. Então, também é muito interessante, Luiza, a equipe ver o posicionamento da direção do prédio, do administrador do prédio que nós ficávamos. (Risos)… Porque uma coisa é você lidar com uma pessoa que sobe por dia, é tipo uma visita. De repente era um grupo, ali trabalhando todos os dias, com deficiências diversas, com necessidades totalmente diferentes. Então foi muito interessante ver também, o lado de fora, esse olhar, de como eles tiveram que se organizar para receber esse grupo diariamente.
Outra coisa também que, como a Luiza citou, era muito interessante, ao telefone, quando algum cliente, “Mas, o Fabiano que vem da formação? Mas, mas como que é? Precisa de alguma coisa? Mas o Danilo? Mas a gente não tem piso aqui?”, então também era esse medo. Será que eles vão dar conta de entrar numa empresa, de entrar numa escola? Como?
Flávia Cintra
Era um momento de muita inventividade, né. E aí a gente acabou com esse grupo tão forte e tão complementar, porque a gente tinha um grupo que trazia pessoas com experiências que se encaixavam e se completavam. A gente criou um formato em uma sequência de produtos que ainda hoje funcionam, né.
Fabiano Puhlmann
Mas eu acho que tinha uma magia, viu? Porque eu penso até né, eu sou uma pessoa que foi educado por uma alemã, e eu fiquei deficiente com 17. Então eu como todas as pessoas com deficiência que estavam num mundo que era uma selva de pedra, só de barreiras, você vai ficando meio rígido, e tudo você planeja demais, né. E aí você se adapta você não quer ficar mudando, né… (risos)… e aí é aquela coisa. Como o Instituto estava em transformação a cada, a cada quase 6 meses, cada 6 meses tinha uma transformação. Eu lembro assim que eu, estava em uma sala, tinha uma mesa, tinha um lugar, aí de repente, agora você vai mudar de lugar. “Como assim eu vou mudar de lugar?”, “Você tem que mudar de lugar” (risos)… então vai, tá bom então, vou mudar de lugar!
Arthur Calazans
Sempre em movimento, né?
Fabiano Puhlmann
Sempre em movimento.
Arthur Calazans
Sempre em movimento.
Fabiano Puhlmann
Então, assim de repente né, fazia a formação num lugar, eu já sabia mais ou menos como era aquele lugar. Agora não vai ser mais lá, vai ser no… então, com o tempo, o que vai acontecendo com você? Você vai ficando tão…
Danilo Namo
Flexível né?
Fabiano Puhlmann
Flexível, assim, você ficava flexível, você fica adaptável. Isso é inclusão! Porque se a gente pensar que a inclusão é, a inclusão é, agora já está determinado pela ONU, que é assim que é assado, né…
Flávia Cintra
É inclusão e crescimento! Porque essa mudança era para atender a necessidades de crescimento.
Danilo Namo
Sim, sim…
Flávia Cintra
Que foi, que foi uma regra?
Fabiano Puhlmann
Por que uma magia? Porque era uma magia sim! Assim, o que estava acontecendo no Instituto era o que estava acontecendo, que precisava acontecer na sociedade.
Arthur Calazans
Na sociedade.
Luiza Russo
Na vida das pessoas também.
Arthur Calazans
Sabe como eu via, muito, quando eu acompanhava vocês todos? Eu via muito que o ato de vocês, de todos nós, aqui dentro e fora do Instituto, era um ato que educava as pessoas.
Quando eu te acompanhava na 25 de março, você com aquela bicicleta revolucionária, (risos)… e eu fotografando e correndo atrás de você. Eu olhava para o rosto das pessoas ao redor e era um gesto de interrupção. Todo mundo parava, como se o tempo fosse congelado, naquele momento, para se passar por ali uma transformação. Era um ato do corpo de vocês, desse corpo diferente, que começava educando as pessoas.
Então o gesto, o tempo da câmera fotográfica, era um tempo focado no corpo de vocês, mas que ao redor estava sendo interrompido cara! Assim, era, era uma sensação tão boa assim desse momento.
Danilo Namo
Tem uma foto que você descreveu que você tirou a minha. Eu estava atravessando a Avenida Paulista na faixa de pedestre e você citou que eu estou atravessando e as pessoas estão olhando para mim. Não, não porque é o Danilo, obviamente. Mas aquilo ainda naquele momento era algo como você falou que interrompe, né? Hoje em dia a gente adora essa palavra, disruptivo, né? Então a gente teve uma ação que foi muito disruptiva. E o que o Fabiano, a Flávia e a Val, e vocês estão falando, e a Luiza, para mim é uma coisa muito mais ampla do que o nosso trabalho, é a nossa ação.
Ou seja, antes da gente chegar, quando a gente chegava, quando a gente ia embora, quando eu já atravessava a rua, independentemente do conteúdo, já mudava aquele contexto, aquele, aquele microcosmo ali, né? E isso é muito interessante.
Flávia Cintra
Potencializava demais né?
Danilo Namo
Boa Flavia, potencializava demais.
Arthur Calazans
E você não escapou de ser atravessado na Avenida Paulista, né? Alguém te atravessou na Avenida Paulista sem você pedir.
Danilo Namo
Me pegou e me arrastou lá para o outro lado e… (risos) acontece até hoje viu Luiza… (risos)
Flávia Cintra
Danilo, Fabiano, acho que vocês, pela formação em psicologia, até podem falar mais sobre isso, porque a minha sensação é que o impacto, o aprendizado, ele continuava depois que a equipe ia embora. E essa experiência ficava reverberando por um tempo ainda. Funciona assim esse processo de aprendizado?
Fabiano Puhlmann
Então, é o que acontece, o efeito que o Arthur estava falando, a cena que para, para, quando você para, porque aquilo é novo, aquilo é impactante, faz você sair do teu lugar comum, um lugar conhecido.
Então você está pronto pra aprender. Então, quando está muito dentro da tua rotina, aquilo se torna óbvio que a pessoa, se você está numa estrutura de integração onde você não tem pessoas com deficiência, então parece óbvio que não venham, que não batam na sua porta, que não, que não criam uma dificuldade. E quando você tem aquele impacto de, por exemplo, eu e o Danilo dentro de uma escola, a gente junto chegando, eu de carro, que nem o Arthur fala…
Danilo Namo
Dezenas de vezes né?
Fabiano Puhlmann
A mil né? Chegando lá, e aí o Danilo tirando a cadeira, né? E aí de repente ele está me ajudando, daí o povo fala, mas quem está ajudando quem? (Risos)
Danilo Namo
Eu com a bengala… (risos)… e conduzindo com a cadeira!
Fabiano Puhlmann
A gente entra em uma sala, as crianças assim, era muito engraçado, porque eles queriam controlar as crianças, mas as crianças tem curiosidade. Elas saiam nas portas, assim a gente ia passando no corredor, elas todas assim, saiam na porta. Aí entravam pra dentro pra contar e esperamos que a gente fosse em todas as salas. Não tinha tempo pra ir em todas as salas, então algumas até entravam na sala para ter, pra gente poder sabe, poder ter a presença. Aí o Danilo ia lá na frente, a gente ia falar da inclusão, Danilo falava assim, então eu sou cego e tal. E ele falava eu sou cego olhando pras pessoas dez vezes mais, “Cego nada!”. (Risos)
Arthur Calazans
Criança é um barato, porque elas são… subvertem toda essa lógica, essa lógica formal, né? E eu vivi muito nas escolas também, fotografando, acompanhando vocês, e tinha, e é esse gesto de ação mesmo, era a nossa ação não era só…
Fabiano Puhlmann
E tinha uma coisa engraçada que era assim todo mundo achava que uma pessoa com deficiência física entendia sobre todas as deficiências. Uma pessoa com deficiência visual, entendia sobre a deficiência física, que entendia sobre a deficiência…
Flávia Cintra
Como se a gente fosse um bloco homogêneo, né?
Flávia Cintra
Fabiano, e tinha uma ação muito importante, incentivada, criada na verdade pela Luiza, interna, nossa, que era a construção de soluções de acessibilidade. A gente criava aqui com vocês e vocês dois lideravam isso, as soluções que não existiam! A gente inventava soluções que não existiam. Por exemplo, o diagnóstico de acessibilidade para empresas.
Danilo Namo
Perfeito! Sim.
Fabiano Puhlmann
A gente foi construindo de acordo com a necessidade. Então porque a tecnologia ela tem que, na tecnologia assistiva ela tem que nascer de uma necessidade e não de uma teoria.
Danilo Namo
Puhlmann, isso é uma coisa muito importante, né Luiza, porque também as empresas, escolas, elas têm um pressuposto de que tais deficiências são, entre aspas, boas ou não boas para determinadas funções. E a gente rompeu isso. A Luiza fazia questão de falar, não, gente, não é porque é cego que vai trabalhar em telemarketing. Não é porque a pessoa é cadeirante que vai trabalhar numa mesa “X”, num determinado lugar, sem poder se mexer. Então, muito de nosso trabalho foi focado em criar as oportunidades para todos poderem trabalhar no máximo de atividades possíveis.
Flávia Cintra
Eliminando as barreiras!
Danilo Namo
Eliminando, fundamentalmente isso Flavia.
Fabiano Puhlmann
Uma coisa que eu acho que é legal a gente ver nesses 20 anos né, e como que tá hoje, eu acabo de chegar de uma feira internacional aonde eu fui de novo, como se eu fosse fazer um oito ou oitenta, oito infinito, como se eu tivesse dado a volta inteira e voltasse de novo…
Flávia Cintra
Que bonito isso que você está falando?
Fabiano Puhlmann
Voltar de novo, olhar a tecnologia, “Como é que está tecnologia hoje?”.
Flávia Cintra
E como que tá, e como que tá?
Fabiano Puhlmann
Então tá muito parecida! (Risos)
É muito engraçado, porque ela tá muito igual. Assim, mas aí o que você vê hoje de diferente lá fora e aqui no Brasil, né?
Você hoje é fácil encontrar… é fácil você encontrar pessoas com deficiência com discurso ótimo. Você fala nossa, mas onde que ela, onde que ela conseguiu estar com essa cabeça tão boa? Vocês devem estar entrevistando, você deve estar sentindo isso né? E assim, por quê? Porque nós estamos na era da informação.
Flávia Cintra
E da visibilidade!
Fabiano Puhlmann
Então assim, não é mais a tecnologia, não é mais aquela tecnologia que vai resolver, o que está resolvendo é que a cabeça das pessoas realmente mudou.
Flávia Cintra
Hoje a gente está na era da informação, uma informação que circula por meio da tecnologia e que democratizou o acesso.
Eu acho que isso, provocou muito a Luíza, a investir uma energia, um tempo para organizar todo nosso acervo de uma maneira que hoje está disponível para qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo.
Luíza, a gente está vivendo um novo paradigma e isso, como sempre, te provoca a inovar. Foi por aí a criação da biblioteca virtual e todos os serviços, como esse próprio do podcast?
Luiza Russo
É interessante, eu acho que o Fabiano estava colocando uma questão importante, que é o poder da informação, e mesmo ele ainda nesse movimento de ir buscar novidades, enfim, uma coisa que está muito, que está posta e que é indiscutível, é que, as pessoas hoje se educam, se formam de uma maneira muito diferente daquele modelo que, escolar ou escolástico, que a gente tem meio na cabeça, que pra gente se informar ou para a gente deter algum conhecimento, é preciso que a gente tenha um tutor, alguém que nos ajude, nos ensine, enfim.
Hoje ele o mecanismo é outro, né? A internet tá aí, as informações estão muito acessíveis. Nós aprendemos o tempo todo com modalidades completamente diferentes daquelas que nos provocavam antes. E eu acho que, novamente, a gente teve que também reinventar o Instituto.
E eu acho que essa questão que você coloca da busca de um novo paradigma, é que, apesar de a gente morrer de saudade, daquela coisa da lógica em que nós, todos, juntos fisicamente nos movimentavamos, íamos de um lugar para outro levando informação, o nosso entusiasmo, enfim, hoje é necessário que a gente democratize isso o máximo possível.
Nós também estamos falando de inclusão, nós já tivemos um bordão dentro do Instituto que “Informar é Incluir”.
Flávia Cintra
Ai que saudade!
Luiza Russo
E nesse, e nesse sentido, as redes sociais, o poder que a gente tem do contato virtual com pessoas nas mais longínquas regiões do Brasil, e inclusive pelo fato da gente viver num país tão, tão grande, né?
Isso tem nos trazido um retorno interessantíssimo, na medida em que a gente também promoveu através do nosso site, a possibilidade de as pessoas poderem estudar, se aprofundar em se informarem através da biblioteca virtual, através dos nossos podcasts, que aos pouquinhos a gente tá conquistando uma audiência interessante.
Além disso… o entusiasmo com que eu e outros profissionais que fizeram parte, que fazem parte da nossa, da nossa turma e da nossa equipe, nós começamos a organizar o acervo técnico do instituto.
Então a gente tem produzido pequenos cadernos, pequenos materiais, não pequenos num sentido, só num sentido mais simbólico, porque ele é recheado de informação. São materiais muito interessantes que trouxeram oportunidades pra gente também de poder atualizar os pensamentos, ideias que nós tínhamos.
E esse material está tendo uma repercussão incrível que nós não imaginávamos. A gente tem um número muito alto de downloads porque esse material está disponível gratuitamente e com isso eu acho que o impacto social que o Instituto tem conseguido promover, continua interessante.
E porque são pessoas com deficiência que acessam essas nossas informações, profissionais que estão interagindo com pessoas com deficiência e pessoas que querem saber mais sobre o nosso universo. Isso é muito interessante!
Arthur Calazans
O Luiza… Luíza, são pessoas incluindo pessoas… pessoas incluindo pessoas!
E os cadernos sobre educação, os cadernos sobre educação que recém foram lançados, são três cadernos, um caderno sobre educação inclusiva, um sobre o mundo do trabalho e o terceiro caderno agora sobre o atendimento educacional especializado, o AEE.
Esses cadernos tiveram interações no Ceará, em Minas Gerais, em Fortaleza, na cidade de Fortaleza, em Juiz de Fora, na cidade de Juiz de Fora e respostas de professores que estão atuando nessas regiões, então essa era da informação que leva a informação e esse desformar do Instituto, é de tirar da forma, de formar de uma outra maneira, a partir dessa era da informação, dessa era digital, né?
Então a gente tem respostas de outros lugares. E a biblioteca virtual do Instituto, que hoje tem 50.000 acessos por mês. E pessoas que ficam, pesquisam, acessam o acervo, o acervo técnico do instituto.
Flávia Cintra
Muito material produzido por você.
Danilo Namo
E isso você está falando de 50.000, Arthur, mas em 2024 vai saber, se alguém estiver ouvindo esse podcast daqui a dois anos, a gente, a expectativa é que isso aumente, que continue. Essa questão gente, que a Luiza está falando, vocês estão falando dessa nova forma de oferecer acesso, de oferecer inclusão, conhecimento.
Eu acho que tem muito a ver com as questões, um pouco, o que o Fabiano falou no outro episódio, o acesso, à questão da acessibilidade, sabe, Luiza, é muito relevante ainda.
Quando a gente sai do mundo virtual, o Instituto oferecendo material de qualidade, gratuito e acessível, é algo que ainda, eu não vou dizer que é uma exceção, no sentido… da quantidade de material acessível, mas é uma exceção porque a gente ainda enfrenta muitas barreiras, barreiras inclusive Flávia, na questão da inclusão digital.
Eu, que sou cego, tenho dificuldades com alguns aplicativos. Algumas dificuldades podem ser minhas, outras eu sei que não são. São de acesso mesmo, de grandes empresas. O Fabiano estava falando na questão das empresas ainda no mundo.
As empresas estão mudando, mudando o eixo, agora tá indo um pouco para a China, não está mais concentrado só na Europa, mais a questão atitudinal ainda, infelizmente a gente tem muito trabalho para fazer Luiza, para, para acrescentar nesse sentido.
Fabiano Puhlmann
Na área da inclusão e na área do acesso ainda é problema. Um dos MBA’s que eu estava fazendo tinha um cego, um cego e deve ter um monte de outros que não falaram, não reclamaram, mas tinha um cego que estava reclamando que ele não estava tendo acesso a planilha do Excel. Imagine planilha de Excel já tenho que uns 30 anos, e no curso, o professor de matemática, doutor não sei o quê, tal, tal, tal. Ele nem sabia que existia! Daí eu cheguei a interferir e eu falei então tá ali, eu também interferi, mas eu interferi procurando primeiro. Primeiro eu procurei, procurei, procurei, e vi lá que tinha um aplicativo que fazia a descrição da tela do Excel e passei para a equipe do MBA lá. E…
Flávia Cintra
E é difícil uma situação que não tem solução hoje em dia gente. Com o grau de tecnologia que a gente já conta, o que falta muitas vezes é o desejo de oferecer essa solução. A atitude né.
Danilo Namo
A solução tem.
Fabiano Puhlmann
A atitude do professor, era uma atitude ainda antiga. A atitude do professor de matemática financeira era assim, “há eu não sei, não estou sabendo, não sei. Acho que não”.
Arthur Calazans
Uma questão atitudinal ainda de invisibilidade. E não pensar nas pessoas com deficiência.
Flávia Cintra
O que que falta acontecer, para que as pessoas comecem a ter mais iniciativa, a desejar a construir essa solução?
Porque essa solução não é só para as pessoas com deficiência. As pessoas sem deficiência perdem muito pela falta desse convívio, e isso já está mais do que demonstrado por estudos, por, não é um discurso opinativo.
Danilo Namo
É comprovado!
Arthur Calazans
E esse acesso a planilha de Excel, esse exemplo que você está dando pode ajudar essa pessoa com deficiência visual, mas pode ajudar todo mundo, e deve ajudar todas as pessoas, porque amplia acesso.Você amplia acesso para todas as pessoas.
Quando é que a gente muda? Como é que vocês acham que a gente passa desse lugar atitudinal para criação do início?
Fabiano Puhlmann
O que eu estou vendo, eu estou vendo de novo uma revolução. Assim, eu acho que não sei, eu sei que a Luiza, e eu não sei… eu estou vendo a Luiza com vontade pra caramba. (Risos)… Eu estou gostando de ver.
Luiza Russo
Eu com 73 anos…
Flávia Cintra
As antenas estão afiadas.
(Todos opinando)
Fabiano Puhlmann
Eu estou gostando de ver, porque assim a Luiza está aqui e não está aqui. A Luíza está online com a gente, ela está, a gente está vendo ela em uma tela, né? Mas a gente se sente com ela aqui, e é tão engraçado isso, parece espiritual até, assim?
Danilo Namo
A Flávia e o Arthur, como é que muda? Não muda, tá mudando, gente. A gente está aqui agora, 20 anos de Instituto Paradigma e o processo de inclusão já tem tanto tempo. É que como o tempo é o nosso tempo de vida, a gente acha que as coisas às vezes estão lentas demais ou não estão mudando como a gente gostaria, mas estão mudando. Muita coisa mudou, muita coisa.
Eu trabalho hoje numa instituição em que o público está mudando. As pessoas que estão frequentando essa instituição, Luiza, estão cada vez mais idosas. A gente tem pessoas de 85, 88, 90 anos de idade, e que hoje em dia tem deficiência. Elas não eram pessoas com deficiência.
Flávia Cintra
Elas estão lá pra recomeçar?
Danilo Namo
E estão lá pra recomeçar!
Flávia Cintra
Isso é muito legal, né?
Danilo Namo
E por isso é que o movimento, realmente, é um movimento que não vai parar, porque as pessoas, todos nós, eu, Fabiano, já temos deficiência Flavia, mas quem não tem deficiência, vai viver muito, e provavelmente vai ter uma deficiência. Isso vai ser uma condição de praticamente todas as pessoas.
Flávia Cintra
E é importante que as pessoas saibam que essa condição não é o fim.
Danilo Namo
Não! É um outro começo!
Flávia Cintra
É muito bacana isso.
Danilo Namo
Na verdade, é uma continuidade, não é um outro começo.
Flávia Cintra
Gente, e aí, eu fico muito emocionada de te ouvir falar Danilo, porque hoje é um grupo muito pequeno, né? Nós éramos muitos! E assim, é muito legal ver a história individual de cada pessoa que passou, que esteve com a gente, porque eu acho que esse também é um legado do Instituto, de ter influenciado tão fortemente a formação de cada um de nós.
Porque hoje eu quero que cada um de nós passe, esteja, a gente leva … O que a gente aprendeu.
Danilo Namo
Sim!
Flávia Cintra
A gente espalha essas sementes que a gente trouxe daqui, né?
Danilo Namo
O Instituto transformou todos nós, eu tenho certeza. E não só quem tem deficiência, Luiza, transformou todos nós! Né Val? Né Luiza?
Arthur Calazams
Sim.
Val Paviatti
E eu fico pensando também o quanto o trabalho do Instituto, também modificou lá fora. Vamos pensar, estávamos conversando nos bastidores, quando vocês iam a uma escola, vocês estavam impactando, a diretora, a professora, o aluno e a família desse aluno. Quantas famílias foram impactadas?
Flávia Cintra
E nas empresas?
Val Paviatti
E nas empresas, né? Então, é muito bonito imaginar e ter certeza do quanto o trabalho que vocês fizeram, em dobradinha, impactou as pessoas aí fora.
Arthur Calazans
Impactou até os direitos sociais, né?
Val Paviatti
Sim, exatamente!
Arthur Calazans
Até a nossa participação no Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência.
Danilo Namo
No CONAD.
Arthur Calazans
No CONAD, né? E os marcos legais, né? Então a gente, é, provocou também mudanças no país, na legislação. Isso é muito importante, isso é um marco para nós. A gente estava fazendo isso, mas a gente estava vivendo essa experiência também, né? Muito interessante.
Flávia Cintra
Muito bom esse reencontro, para muito lembrar essas histórias, né.
Arthur Calazans
Eu estou com uma música na cabeça.
Flávia Cintra
Ai meu Deus! (Risos)
Arthur Calazans
Até saiu aqui, é verdade… ó, até saiu aqui.
Danilo Namo
Você vai falar, vai cantar?
Arthur Calazans
Não, eu queria ler um trecho porque tem tudo a ver com esse encontro. O Instituto é esse lugar dos encontros, né? É um que encontra o outro, e esse encontro no tempo, é como se fosse aquela foto da Paulista, Dan, que você está atravessando. Aquilo está congelado no tempo e passou 20 anos daquela foto.
Danilo Namo
Tanto é, que eu estou com aquela camisa, uma blusa no ombro que todo mundo fala que é blusa de tiozinho hoje em dia. (Risos)
Arthur Calazans
Você está com um pulôver bege. Chic, atravessando a Avenida Paulista, a Avenida Paulista, nessa época não tinha ciclovia. Avenida Paulista nessa época não tinha piso, piso podotátil de direcionamento.
Danilo Namo
Olha!
Arthur Calazans
Avenida Paulista ainda tinha o calçamento de português, de azulejo português, aqueles que eram horríveis, pra gente andar com a cadeira, né? E hoje a Avenida Paulista é um lugar acessível.
Flávia Cintra
Arthur, qual é a música?
Arthur Calazans
A música é “Oração ao tempo”, do Caetano Veloso.
Danilo Namo
Há, sim.
Arthur Calazans
Deixa eu ver a letra completa dela. “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo. Vou te fazer um pedido, tempo, tempo, tempo, tempo, compositor de destinos”.
Vocês são compositores de destino!
Danilo Namo
Nós somos!
Arthur Calazans
“Tambor de todos os ritmos. Tempo, tempo, tempo, tempo. Entro num acordo contigo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Por seres tão inventivos e pareceres contínuo. Tempo, tempo, tempo, tempo. És um dos deuses mais lindos”.
O tempo foi lindo com a gente né?
Val Paviatti
Foi!
Arthur Calazans
“Tempo, tempo, tempo, tempo. Que sejas ainda mais vivo”.
Que é o momento que a gente está vivendo.
“No som do meu estribilho. Tempo, tempo, tempo, tempo. Ouve bem o que eu te digo Tempo, tempo, tempo, tempo. Peço-te o prazer legítimo, e o movimento preciso tempo, tempo, tempo, tempo.
Quando o tempo for propício. Tempo, tempo, tempo, tempo. De modo que o meu espírito ganhe um brilho definido. Tempo, tempo, tempo, tempo. E eu espalhe benefícios. Tempo, tempo, tempo, tempo.
O que usaremos para isso fica guardado em sigilo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Apenas contigo, e migo. Tempo, tempo, tempo, tempo. E quando eu tiver saído, para fora do teu círculo, tempo, tempo, tempo, tempo. Não serei, nem terá sido. Tempo, tempo, tempo, tempo.
Ainda assim, acredito, se possível, reunimo-nos, tempo, tempo, tempo, tempo, num outro nível de vínculo. Tempo, tempo, tempo, tempo. Portanto, peço te aquilo. Eu te ofereço elogios. Tempo, tempo, tempo, tempo. Nas rimas do meu estilo. Tempo, tempo, tempo, tempo”.
Val Paviatti
Que tempo lindo, né? Que vivemos e estamos vivendo…
Flávia Cintra
Luiza, eu acho que uma, assim… uma vantagem do envelhecer, é ter essa possibilidade de viver histórias… viver o desfecho de histórias e o recomeço. E assistir, esse arco, acontecendo.
Como que é para você?
Luiza Russo
É lindo! Eu acho lindo, porque no fundo é o que o Arthur estava lendo na poesia do Caetano é… a gente mais velha, né, o tempo tem um outro sentido, outro significado, ele vai ganhando outro significado.
Não é o mesmo tempo em que eu estava enlouquecida… (risos)… dentro da, dentro das nossas instalações, resolvendo problemas o tempo todo, enfim. Mas hoje é um tempo gostoso, da gente degusta, né?
Eu acho que essa situação de ir buscando, pensando, é, nas possibilidades que, que hoje o mundo virtual nos dá e que a internet nos trouxe.
E a gente poder dimensionar esse tempo vivido nosso no dia a dia, lá na labuta, enfim, hoje, num tempo de qualidade, pensando sobre todas essas coisas que nós fizemos e dando um sentido para ela hoje.
É lógico que na idade que eu estou, eu estou ótima, ainda bem que eu tô muito bem, mas é lógico que o meu ritmo e o meu tempo são outros.
Flávia Cintra
A gente também!
Luiza Russo
Essa energia que esse, que essa missão, essa meta me traz, o tempo todo que eu tenho. Eu sou muito apaixonada pela educação, é, isso, isso me traz sempre um sentido, um outro dia, uma vontade de fazer mais coisas.
Então eu acho que ensino o Instituto, a gente brincava que era um filho meu, que, né, que na verdade a gente dificilmente passa para outra, para outra pessoa…
Flávia Cintra
Cuidar!
Luiza Russo
Porque na verdade a gente também tem um certo ciúmes e quer continuar, a educá-lo e aproveitar todas as, as oportunidades dos prazeres e os, os dissabores. E essa, e essa vivência traz, mas assim, o Instituto continua fazendo muito sentido na minha vida.
E eu fico muito, também, empolgada de poder falar pros meus netos sobre tudo isso, porque eles também ficam curiosos quando ouvem falar do Paradigma, ”O que foi isso vovó? O que você fez, né?”.
Então, e ao mesmo tempo poder junto, imprimir valores e ter fé que novas gerações serão melhores do que as nossas.
Flávia Cintra
E serão, né gente?
(Todos confabulando)
Luiza Russo
Então, é uma questão de que eu vou levar, e levo para sempre com carinho, e tenho um afeto enorme, uma gratidão enorme por todos vocês que participaram de tudo isso, porque, foram muitas pessoas que atravessaram os nossos caminhos, enfim.
A gente dialogou com muita gente, conviveu com muita gente, tem muita gratidão, porque todas essas pessoas foram, pessoas que possibilitaram essa potência de transformação que a gente viveu.
Luiza Russo
E a gente continua! E eu fico feliz de ouvir o que vocês estão falando. Porque vocês também continuam semeando por aí os valores que a gente compartilhou. Isso é muito bom. Isso faz bem para minha alma, me dá energia.
Vou viver mais de 73 anos!
(Todos confabulando)
Flávia Cintra
Oba!
Danilo Namo
No mínimo!
Flávia Cintra
Luiza, muito obrigada!
Muito obrigado por esses 20 anos, e pelos próximos que a gente sabe que estão por vir!
Danilo Namo
Muito obrigado Luiza.
Luiza Russo
E a vida, por ter me dado esta oportunidade.
Danilo Namo
Muito obrigado mesmo!
Arthur Calazans
Obrigado Luiza.
Flávia Cintra
Obrigado gente!
(Palmas e agradecimentos)
“Pessoas Incluindo Pessoas”
Comemorando 20 anos de Instituto Paradigma.
Podcast em 2 partes.
Apresentação – Flávia Cintra / Val Paviatti / Arthur Calazans
Entrevistados – Luiza Russo / Danilo Namo / Fabiano Puhlmann
Gravação de Áudio – João Teixeira
Transcrição – Celso Vital e Silva
Produção e Edição – Uirá Vital
Realização – Instituto Paradigma e Olho Preto Produções
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