A deficiência relativizada: Entre discursos e a Prática Política

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DESCRIÇÃO:

Esta tese analisou aspectos da apropriação do modelo social da deficiência pelas narrativas do ativismo brasileiro em prol dos interesses das pessoas com deficiência. Partiu-se do pressuposto que o modelo social, já em sua gênese, ressignifica a deficiência de modo à relativizá-la e atenuar as dimensões de gravidade da condição de pessoa com deficiência. Para empreender esta análise se considerou o referido ativismo enquanto consubstanciado na atuação das principais entidades brasileiras de assistência às pessoas com deficiência mental. Partiu-se, ainda, da premissa que a militância desta categoria minoritária se expressa, basicamente, na bandeira pelo fim da discriminação, pautada na afirmação da igualdade de direitos e, em grande medida, na negação da diferença, enquanto uma variante do discurso relativizador acerca da deficiência. A pesquisa que fundamentou empiricamente a tese foi empreendida a partir de dois estudos de caso que evidenciam exemplarmente a incorporação de premissas do modelo social: 1) a campanha governamental, do ano 2000, pela inclusão dos alunos com deficiência nas escolas comuns, focada em uma peça publicitária do Governo Federal amplamente divulgada e 2) o grau de participação das referidas entidades de deficientes em um longo e polêmico debate nacional – aqui recortado no período de 1996 a 2001 – sobre o aborto de fetos com anomalias, que teve a mídia como palco de expressão e a produção científica das entidades como espaço ideal de repercussão. A análise de discurso empregada buscou privilegiar as condições sócio-históricas de produção da linguagem, valendo-se, para isto, das reflexões de Bourdieu acerca da teoria dos campos e de Foucault sobre formações discursivas. Estes estudos de caso demonstraram inconsistências do projeto identitário de uma categoria minoritária que experimenta dificuldades em operar um campo discursivo que é, ao mesmo tempo, um campo político. Tendo em vista que o modelo social foi originalmente elaborado a partir da reflexão teórica de acadêmicos e militantes de países centrais, concluiu-se que, para o Brasil, país periférico caracterizado por uma sociedade civil fracamente organizada, a inconsistência entre discurso pregado e prática política na militância pelas pessoas com deficiência resulta, em parte, da apropriação acrítica de uma reflexão gestada em um outro contexto. Ainda que tenha incorporado um certo tom de denúncia, na medida em que expõe a distância objetiva existente entre os ideais de uma causa e suas realizações concretas, a reflexão teórica que embasou esta tese buscou, de algum modo, superar o dualismo maniqueísta que situa discurso e prática em pólos distintos. Assim sendo, se espera ter reafirmado a qualidade dependente e complementar que há entre discurso e prática no processo de contínua construção destes.

ANO:

2005

FORMATO:

PDF

AUTORA:

Alessandra Santana Soares e Barros

FONTE:

Research Gate