Luciano Mallmann durante apresentação do seu monólogo “Ícaro”, em cartaz desde 2016. Foto: acervo pessoal. Créditos: Renato Domingos
Por Elsa Villon
Quando participava das peças escolares em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, Luciano Mallmann não imaginava que poderia trabalhar profissionalmente como ator. Apesar do interesse no teatro, aos 18 anos decidiu se mudar para Porto Alegre e estudar publicidade e propaganda.
Foi nessa mesma época que começou a fazer cursos livres de teatros e participar de comerciais para a televisão: “Conheci o diretor Zé Adão Barbosa, que me dirigiu nos meus primeiros trabalhos profissionais no teatro”, conta o ator e produtor.
Conciliando os estudos em publicidade e o teatro, Luciano se graduou e passou a trabalhar em agências, na área de planejamento de mídia. Segundo ele, a experiência contribuiu muito para a produção e venda de espetáculos, para a formatação de projetos, construção de planos de divulgação e busca de apoiadores.
Aos 25 anos, decidiu se mudar para o Rio de Janeiro para se dedicar às artes cênicas, onde morou por oito anos. Foi neste período que a dança e a acrobacia entraram para a sua vida: “Participei de uma peça onde eu tive que aprender algumas coreografias e ter algumas noções de dança. A partir daí, comecei a fazer aulas todos os dias e continuei mesmo depois do espetáculo ter acabado”.
Ele fez estágio em uma companhia de dança quando teve contato com a acrobacia aérea de circo e se apaixonou pela prática. Passou a treinar e, com o tempo, já dava aulas e desenvolvia trabalhos como acrobata. Em um dos treinos, sofreu uma queda que gerou uma lesão na medula, passando a usar cadeira de rodas.
Novos caminhos para atuação
Depois da cirurgia em decorrência do acidente, Luciano retornou a Porto Alegre para ficar mais próximo da família e enfrentar uma nova realidade: as barreiras de uma sociedade capacitista. “Também tive que lidar com a frustração e me dar conta de que o mundo está longe de ser plenamente acessível para as pessoas com deficiência”, comenta.
Trabalhando somente com publicidade, ele achou que sua carreira como ator havia acabado, mas, após o convite para uma participação em “Viver a vida”, novela de Manoel Carlos, ele percebeu que sua vontade de atuar ainda existia.
Ele destaca que um ator com deficiência é, na maioria dos casos, chamado apenas para interpretar personagens com deficiência: “É raro alguém considerar a possibilidade de um personagem que não tenha nenhuma deficiência possa ser interpretado por um ator com deficiência. E isso faz com que tenhamos poucas oportunidades de trabalho”.
Outro ponto abordado por ele é que atores com deficiência não precisam ser protagonistas apenas quando o assunto é deficiência. “Essa é apenas uma de nossas muitas características, podemos e devemos falar sobre qualquer assunto”, comenta.
Ele também pontua que a falta de acessibilidade arquitetônica é comum em muitos teatros e casas de espetáculo: “Se preocupam com a questão para o público, mas esquecem dos artistas com deficiência”.
As conquistas na trajetória
Atualmente, Luciano integra a campanha contra o capacitismo do Movimento Em Desconstrução. E menciona seu espetáculo “Ícaro” como uma vitória na carreira. Com estreia em 2017, o monólogo segue em cartaz , com direção de Liane Venturella. Na obra, o ator interpreta vários personagens cadeirantes. “Eu construí a dramaturgia baseado nas minhas experiências pessoais, na percepção que tenho sobre a deficiência e também me inspirando em algumas pessoas que conheci”, afirma.
Quando questionado sobre quais são os próximos planos, Luciano menciona que quer dirigir um espetáculo. O ator não tem dicas para pessoas com deficiência que almejam seguir com a carreira, pois não há fórmulas: “Somos todos diferentes e cada um tem uma história”. Ele ressalta que passou a produzir seus próprios projetos, ao invés de esperar ser chamado para trabalhos, e afirma que ter se tornado produtor de seus trabalhos é uma das grandes conquistas de sua carreira, pois lhe permite autonomia.
Por fim, o ator enfatiza que foi a melhor decisão que tomou e acredita que seguir a intuição, buscar parcerias de pessoas que pensam de maneira similar e fazer as coisas acontecerem por conta própria pode ser um ótimo caminho.