Diversidade e inclusão ganham destaque no podcast Não Inviabilize 

Foto: acervo pessoal. Créditos: Andreia Freitas

 

Por Elsa Villon

 

“Oi, gente. Cheguei. Cheguei para mais um Picolé de Limão”. Quem acompanha o podcast “Não Inviabilize” reconhece a fala de Andreia Freitas, Deia, abrindo um dos oito quadros mais famosos em que narram histórias cotidianas enviadas por seus ouvintes. 

 

Completando dois anos de criação em 7 fevereiro de 2022, o podcast é um dos mais ouvidos em diversas plataformas de reprodução e no site Não Inviabilize, que conta com episódios inéditos e transcrição completa das histórias. Os internautas podem fazer contribuições mensais para ter acesso a conteúdo exclusivo. 

 

Psicóloga de formação, roteirista e escritora, Deia lembra que tudo começou no Twitter, quando trazia histórias que recebia das pessoas: “Foi a podcaster Priscila Armani que sugeriu que eu criasse um podcast com esses relatos”. O primeiro passo foi criar uma conta no Telegram, narrando os casos em áudio e compartilhando no grupo. Um ano depois, a ideia cresceu e se tornou o podcast conhecido atualmente. 

 

Os números mostram o sucesso de público: são mais de 720 mil ouvintes e 63 milhões de reproduções das crônicas da vida real, que ganham vida na voz de Deia. Muito em breve, os episódios virarão série: “Os roteiros estão em fase de finalização e foram fechados com a produtora Fábrica, mas ainda não foram vendidos para nenhuma plataforma de streaming”, comenta. 

 

A importância da acessibilidade e da inclusão

 

Ao pensar em um podcast, é comum imaginar que a comunidade surda não tenha acesso a esse conteúdo. Entretanto, essa foi uma demanda que surgiu desde o início do Não Inviabilize. “As pessoas me pediam as transcrições, mas nós não tínhamos dinheiro para fazer. Quando começou a entrar um pouco de recurso, foi a primeira coisa que eu fiz”, lembra a escritora. 

 

Mas e os surdos sinalizados, que só se comunicam por libras? Eles também queriam acompanhar as novidades e os pedidos começaram a chegar: “De novo, recebi a demanda de que só a transcrição não era suficiente. Isso demorou um pouco mais, porque é mais caro para conseguir fazer, mas agora eu consegui e, dentro de pouco tempo, nós vamos ter as histórias também em libras”. 

 

Além da acessibilidade, Deia prioriza relatos de pessoas com deficiência quando os recebe, mas afirma que não são muitos. Ela também procura sempre dar prioridade a grupos socialmente excluídos que representem a diversidade. 

 

Recentemente, a roteirista divulgou uma vaga para auxiliar de roteiro voltada a mulheres negras e foi alvo de muitas críticas. Mesmo assim, afirma que, em futuras contratações, continuará priorizando esses perfis. “É uma questão de inclusão mesmo, de tornar o mercado acessível. Eu sou muito pequena no mercado de trabalho, então só posso oferecer uma vaga por vez. Mas se nessa vaga eu puder colocar uma mulher negra, ou com deficiência, é o que eu vou fazer”. 

 

Deia relata que recebeu muitos currículos de pessoas altamente qualificadas, mas que não encontravam vagas compatíveis no mercado. “Eu recebi um e-mail que a moça tinha até mestrado e a última vaga que ela tinha conseguido era numa rede de lanchonetes. É inaceitável.” 

 

Os esforços da podcaster para aumentar a diversidade de seus conteúdos vão além dos casos contados. Ela afirma que é preciso dar espaço em todas as áreas de atuação de seus trabalhos: “Agora que o podcast vai virar série de TV, o meu contrato tem uma cláusula de diversidade, uma cláusula para a inclusão de pessoas com deficiência tanto nos bastidores quanto nos episódios”. Para ela, essa é uma das formas de garantir a participação dos grupos socialmente excluídos no mercado de trabalho, que é totalmente fechado.  

 

Os próximos passos da podcaster

 

Além da série de TV, com uma temporada de oito histórias inéditas, a psicóloga afirma que pretende lançar dois livros, sem data definida por enquanto. 

 

Quando questionada sobre projetos futuros, ela afirma que não é uma pessoa de fazer planos: “Vou me deixando levar, pode ser que haja um filme, que ainda é um esboço, mas vou vivendo um dia de cada vez, sem grandes planos”. 

 

Já em relação ao podcast, Deia pretende continuar contando os relatos recebidos por e-mail, e afirma que não tem predileção por nenhum episódio gravado, pois vive a emoção na hora: “As histórias são todas como se fossem meus filhinhos, são todas iguais. Não tenho uma preferida”, finaliza.