Instituto Rodrigo Mendes lança pesquisa sobre tecnologias digitais aplicadas à educação inclusiva 

Em 2021, o Instituto Rodrigo Mendes anunciou a formação do seu Núcleo de Pesquisas e Tecnologias para a produção de conhecimento e para impulsionar a educação inclusiva em escolas de todo o país. 

Criado durante o período de pandemia de covid-19, o Núcleo desenvolveu seus primeiros estudos permeado pelas dificuldades enfrentadas por profissionais de educação e estudantes durante o ensino remoto, quando as tecnologias digitais passaram a ser usadas em grande escala. 

Realizada pelos pesquisadores Gustavo Taniguti, Karolyne Ferreira e Luiza Corrêa,  do Instituto Rodrigo Mendes, em parceria com o Instituto Unibanco, a pesquisa “Tecnologias Digitais aplicadas à Educação Inclusiva – Fortalecendo o Desenho Universal de Aprendizagem” traz um panorama inédito e a atual oferta de recursos educacionais digitais no Brasil. Para Gustavo, coordenador do Núcleo, um dos desafios iniciais foi identificar os atores que desenvolvem e disponibilizam essas soluções no setor educacional. 

O estudo é dividido em quatro capítulos: “Educação Inclusiva e transformação digital”, que aborda os recursos educacionais digitais e as tecnologias assistivas; “A transformação digital e os seus recursos”, que traz os marcos normativos e a bibliometria; “Uso e oferta de tecnologias educacionais”, com desafios, estratégias e cultura tecnológica, considerando as grandes empresas de tecnologia e startups, como Microsoft, Google e Facebook, entrevistados para a publicação; e “Boas práticas do uso das tecnologias nas escolas”, com três estudos de caso de instituições de ensino. 

Desenho Universal para Aprendizagem e tecnologias

Gustavo afirma que, durante o processo de adoção do ensino remoto por conta da pandemia, ficou evidente que a transformação digital das escolas não deve ser guiada apenas por critérios técnicos, apenas inserindo tecnologia na sala de aula: “Ela deve estar acompanhada de propostas pedagógicas transformadoras, capazes de resultar em oportunidades educacionais”, pontua. 

Segundo ele, o Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) surge como uma abordagem prática muito útil, pois propõe que os educadores trabalhem com múltiplos métodos de apresentação dos conteúdos curriculares, mediação de aprendizagem e envolvimento das alunas e dos alunos. “Isso significa explorar variações durante a aprendizagem, respeitando as singularidades e o ritmo de cada estudante, incorporando-se acessibilidade, sensorialidade e graus de dificuldade no material didático”, destaca.  

O DUA visa ampliar as oportunidades de desenvolvimento de cada estudante por meio do planejamento pedagógico contínuo, com apoio das mídias digitais, de acordo com artigo do portal DIVERSA.

Uma das soluções disponíveis que utilizam o modelo é a ferramenta de leitura Clusive, desenvolvida pelo Center on Inclusive Software for Learning (CISL) e mencionada na pesquisa.
 

Estudos de caso da pesquisa

Além do levantamento de dados sobre tecnologias digitais, a pesquisa também traz três estudos de caso no Brasil: o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), campus Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul; a Escola Municipal Professor Walcir Garcia, em Manaus, no Amazonas; e a Diretoria Regional de Educação de Pirituba, em São Paulo. 

No Rio Grande do Sul, o desafio do IFRS era garantir a permanência e a autonomia de um estudante público-alvo da educação especial. Em Manaus, a proposta era diversificar os processos de ensino-aprendizagem. Já em São Paulo, o intuito era promover o acesso e garantir a aprendizagem durante a pandemia. 

Gustavo destaca o caso do IFRS, que conseguiu ofertar soluções em tecnologia cuidando de todo o processo de seu desenvolvimento. “Eles partiram da escuta do estudante, que apontou as necessidades de apoio à aprendizagem. Depois, os técnicos da instituição foram ao laboratório para criar soluções, testando-as e validando-as com o estudante. Por fim, foi feito o acompanhamento pedagógico com uso das soluções”, conta.  

Ele também cita o caso da Escola Prof. Waldir Garcia, em Manaus (AM), que adotou a educação inclusiva tanto em suas práticas pedagógicas quanto na gestão escolar. “Em resumo, cada escola possui desafios práticos que variam de acordo com o território, com as políticas públicas e com a realidade dos estudantes”, declara o pesquisador. 

Desafios na implementação de tecnologias

A implementação de tecnologias nas escolas, ainda mais tecnologias inclusivas, continua sendo um desafio por diversos fatores, como a realidade local na qual as unidades escolares estão inseridas, os acessos a esses recursos e o papel da gestão escolar da rede de ensino. 

De acordo com Gustavo, nas escolas em que o acesso a recursos educacionais ainda está no começo, é importante pensar na sua utilização em sintonia com o Projeto Político-pedagógico, com garantia de acessibilidade e conectividade: “A gestão tem um papel importante nisso, pois é responsável por destinar recursos financeiros à aquisição de tecnologias e ofertar capacitação para que professores saibam usá-las em sala de aula”. 

O pesquisador também destaca que o país ainda não tem uma estratégia nacional que articule ensino e tecnologias: “Na avaliação de uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União, o Ministério da Educação não possui uma política centralizada que inclua ações de fomento, capacitação de docentes e outros temas essenciais para a transformação digital com qualidade. Identifico aí um desafio central: inaugurar essa estratégia”. 

Ensino inclusivo e AEE na pós-pandemia

Na pandemia, o uso dessas tecnologias se deu em caráter emergencial, pela necessidade das instituições de ensino em darem continuidade ao calendário letivo. Em meio a esse cenário, observou-se também que essas medidas podem ser excludentes, considerando não apenas a falta de acesso dos estudantes a esses recursos, mas também sua etapa de letramento ou recursos de acessibilidade, no caso de pessoas com deficiência. 

O Atendimento Educacional Especializado foi outro ponto mencionado por Gustavo, que afirma que pouca atenção foi dada a essa demanda: “A invisibilidade dos estudantes com deficiência ainda é uma barreira enorme. Nenhuma pesquisa sobre a situação das escolas durante a pandemia sequer considerou esse público estudantil. Isso é grave”. 

Ele menciona a discussão internacional em torno da expectativa pós-pandêmica, que prevê um futuro capaz de reconstituir os sistemas de ensino de maneira mais inovadora. “Isso significa não apenas testar a sua resiliência no cotidiano, mas também promover uma profunda mudança cultural que utilize as tecnologias como ferramenta de ensino que respeite a diversidade humana”, finaliza.