Conheça o projeto que promove ações de voluntariado todos os dias do ano 

Foto de Pedro Ronan, um homem branco de cabelo longo e barba castanhos. Ele olha para a câmera e está sorrindo
Pedro Ronan, da ong Argilando, que promove ações de voluntariado todos os dias do ano

Foto: Acervo Pessoal. Créditos: Pedro Ronan

Por Elsa Villon 

O Dia Nacional do Voluntariado é celebrado em 28 de agosto e a Lei nº 9.608, de 1998, oficializa a natureza das atividades. Quando se fala do tema, é comum pensar em ações de caridade, geralmente ligadas à religião, com atividades pontuais e um público-alvo específico. Para o empreendedor social Pedro Ronan, é preciso desmistificar essa visão. 

Formado em direito, professor de responsabilidade social na área de voluntariado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele defende que os voluntários têm nas mãos a oportunidade de trazer visibilidade para causas invisíveis, como a inclusão de pessoas com deficiência. “É preciso romper com paradigmas de caridade e assistencialismo. Se cada um de nós nos juntarmos e fizermos um pouco, teremos grandes resultados.” 

Pedro também é diretor na Argilando, uma organização sem fins lucrativos, que desde 2004 atua na promoção do voluntariado e no apoio à gestão de projetos sociais. A ong tem como objetivo reunir pessoas que querem agir, mas não sabem por onde começar. Reunindo voluntários com interesses em diversas causas em diferentes frentes e parcerias, a instituição também trabalha com consultoria para voluntariado empresarial. 

Uma iniciativa é a promoção de ciclos anuais de ações, que começam sempre no dia 5 de novembro, data em que a instituição foi criada. As ações englobam um calendário global de voluntariado, que se desdobrou em um projeto próprio: o 365 dias de Agir. Criado em 2015, o projeto incentiva que haja, pelo menos, uma boa ação de voluntariado acontecendo no mundo por dia.  

Para participar, basta entrar em contato pelo site ou redes sociais do projeto e combinar a data em que será realizada a atividade. Após o desenvolvimento, é necessário o envio de uma foto, com depoimento e especificação do que foi feito, como objetivo e público-alvo. A única restrição para a participação é que a boa ação não pode ser feita para algum familiar ou amigo: “Acreditamos que aí mora o sentimento de afeto, não o de solidariedade por uma causa social”, pontua o empreendedor. 

Vale qualquer boa ação: desde plantar uma árvore, deixar um livro para doação, levar chocolates para as crianças no deserto da Namíbia ou doar material escolar para estudantes na Índia, dentre outras. Tudo vai depender da disponibilidade e iniciativa do voluntário, que escolhe como quer e pode contribuir. 

Para Pedro, o voluntário não é o salvador de ninguém, mas sim alguém que entende a necessidade do outro, a demanda a ser tratada. “É nesse olhar que nós tentamos trazer o lugar do voluntário: tratando essa questão, eu vou me desenvolver”. 

365 dias para incluir

As atividades do 365 dias de Agir, muitas vezes, se desdobram em outras ações. Uma delas foi o 365 dias para Incluir, em 2017. Resultado de uma parceria com o Memorial da Inclusão, o Abaçaí Cultura e Arte e a Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência de São Paulo, a iniciativa tinha como objetivo romper com o paradigma da pessoa com deficiência como beneficiária, mas sim trazer o seu protagonismo como voluntária. “O convite era que essa população saísse do lugar da visão comum que a sociedade trazia como público a ser atendido. Toda a temática gira em torno da inclusão e acessibilidade”, destaca Pedro. 

O projeto incluiu pessoas com deficiência do Brasil inteiro, com 576 ações totais durante o ciclo de um ano e meio, em 48 municípios de 17 estados brasileiros, além de uma iniciativa internacional no Canadá. Ao todo, 217 voluntários participaram do projeto.  

Com as diretrizes técnicas dos parceiros, o 365 dias para Incluir foi dividido em três categorias: básica, para as ações mais simples; intermediária, para as mais complexas que tratavam a inclusão de uma forma direta; e avançadas, para as propostas protagonizadas por pessoas com deficiência que defendiam uma causa social. Todas as práticas trabalhavam em três frentes: o protagonismo, as demandas e os direitos. 

Segundo Pedro, a experiência foi enriquecedora porque demonstrou que a vulnerabilidade das pessoas com deficiência se dá pela falta de acessibilidade: “É a falta do acesso ao direito”. O projeto também incluiu pessoas sem deficiência em ações de voluntariado, segundo a premissa de que o lugar do voluntário é a pessoa que faz junto com o outro e acredita no movimento como base real para a transformação: “As grandes conquistas das causas sociais sempre se deram por grupos de pessoas que começaram a lutar pelos seus direitos, a falar, a se apresentar, a mostrar uma realidade que, para aquele que não participa dela, é invisibilizada”. 

Outras formas de contribuir

Participar de ações de voluntariado durante a pandemia da covid-19 pode ser um desafio para muitas pessoas. Mas, de acordo com Pedro, a necessidade criou novas formas de expandir a rede: “Descobrimos que ao reinventar o voluntariado, muitas ações poderiam ser feitas dentro de casa”. 

Dessa forma, começaram campanhas para arrecadação de cestas básicas, assim como mentorias com jovens em diferentes temas, como educação financeira, protagonismo, questões mais básicas de nutrição, networking para o ambiente de trabalho, cursos profissionalizantes, tudo em um ambiente online. 

Outra forma de ser voluntário pela Argilando é com o projeto Mini Gentilezas, outro desdobramento do 365 dias de Agir. A proposta é arrecadar produtos de higiene em miniaturas e distribuí-los para a população em situação de rua, em combate à violência simbólica sofrida por essas pessoas. A iniciativa já acontece em 94 cidades de sete países: Brasil, Argentina, Colômbia, Canadá, Estados Unidos, Portugal e Inglaterra. 

A rede é composta por voluntários que se candidatam a receber os produtos, além dos centrais, que fazem a triagem e contabilizam os itens doados, e as instituições parcerias, que fazem as entregas para a população em situação de rua. 

“As pessoas podem se conectar simplesmente com a doação daquele produto e essa simplicidade tem muito valor, porque mostra que somos capazes de agir, dar esse primeiro passo. A proposta do projeto é que as pessoas, a partir dessa experiência, deem continuidade à proposta do voluntariado dentro da sua vida pessoal e profissional”, afirma. 

 Divulgar é preciso

De acordo com Pedro, um dos maiores desafios enfrentados em relação ao voluntariado é o da romantização da benfeitoria e de que divulgar as ações é algo errado, como uma forma de autopromoção: “Temos uma cultura histórica e religiosa que mostra que as boas ações não podem ser mostradas”. Outro ponto é sobre a clareza dos processos de maneira geral e como gerar recursos financeiros para a aplicação da finalidade coletiva. 

Para ele, as redes sociais são de grande valia para a divulgação das ações e devem ser usadas como fomento para aumentar o número de voluntários e trazer visibilidade para as causas. E cita um dos temas da Argilando: “Só faz sentido aquilo que é sentido. É preciso se conectar às distintas realidades para que o voluntariado tenha um propósito maior que uma simples demanda”.  

O empreendedor social também reforça a importância do voluntariado empresarial para o fortalecimento do desenvolvimento pessoal e profissional das pessoas. “Trabalhamos muito com empresas e organizações que convidam seus grupos de colaboradores a escolherem um dia dentro de uma semana específica ou mês para praticarem essas boas ações. E nós divulgamos isso, mostrando não apenas como essa rede é grande, mas como tem potencial para ser ainda maior”, pontua. 

Ele também acredita que, mais do que adotar uma causa, o voluntariado empresarial também é uma fonte de desenvolvimento profissional: “É um momento em que a pessoa passa a trabalhar novos conhecimentos, habilidades e atitudes que só dentro do processo profissional ela não desenvolveria, pois ocorre a integração entre diferentes funcionários e a interação com a sociedade. É ver o voluntariado como causa, mas também como uma estratégia para o desenvolvimento”, destaca. 

Por fim, Pedro convida a todos a serem voluntários em diferentes causas para que todos nós tenhamos um futuro mais digno: “A proposta é sempre fazer junto, entendendo que a vulnerabilidade não está nas pessoas, mas sim nas causas. Quando entendemos isso, entendemos que trabalhamos por uma causa maior e qual é o nosso papel e quais são as possibilidades à nossa volta”.