Por Denise Dedio
Meu nome é Denise Dedio, sou uma mulher com deficiência, tenho 41 anos de idade. Fui uma das personagens do vídeo “Nossa História”, do Instituto Paradigma, em 2006. Faz tempo hein! O Nossa História é um mini documentário produzido pelo Instituto para registrar os avanços da Educação Inclusiva no município de Santo André. Na época eu estudava no Centro De Formação Profissional João Amazonas.
Até hoje não sei como fui parar ali, o Arthur me disse que fui selecionada entre muitas histórias da rede de Santo André! Que sorte! Foi no João que eu terminei o Ensino Médio e consegui um trabalho de operadora de Telemarketing, foram 3 anos de muito aprendizado e uma perspectiva profissional inicial. Não como eu sonhava, mas um começo importante para mim.
A escola pública, inclusiva, acessível e para todos mudou a minha vida. Foi na escola que aprendi a viver intensamente o significado da palavra mudança. E os professores mudaram a minha vida também, carrego cada gesto comigo. Às vezes encontro com eles aqui no bairro. É sempre emocionante!
Vou contar um pouco de como vim aqui escrever esse texto sobre a minha vida, o Arthur falou que é um Perfil. Então vamos lá! Como a maioria das pessoas, sai desse período de isolamento, pandemia, um pouco distante de tudo e de todos. Novamente o que a vida me pediu foi coragem! Faz pouco tempo que eu e o Arthur nos encontramos no Instagram. Como eu disse para vocês, faz 14 anos que participei do vídeo Nossa História, eu nem lembrava mais dele e do Instituto. Foi uma surpresa e tanto. Conversamos um pouco, mas não deu nem tempo de colocar a conversa em dia. Eu falo bastante e o Arthur também. Então já viu né?
O Arthur me perguntou como eu estava, como estava a vida, parecia a mesma pergunta que ele me fez a 14 anos atrás, sentado no sofá da minha casa. A terapia me ajuda muito a ver o mundo diferente, a acreditar que é possível, a responder essa pergunta do Arthur. Além da terapia, a minha amiga Sheila é tudo de bom! A gente ri muito juntas e com ela saio por ai pra me divertir. Foram essas duas pessoas que me incentivaram a dar um passo que nem eu imaginava que seria possível nessa vida! Viajar sozinha para o Nordeste! Achei que era coisa de outro mundo, fiquei com aquilo na cabeça, vi que era uma oportunidade de eu me conhecer como pessoa com deficiência e ver do que eu era capaz! Segundo o Arthur, foi um resgate da minha ancestralidade, da minha força, chique isso né?
Deixa eu explicar. Meu pai é nordestino, do Piauí, e incentivado pela Sheila e pela minha psicóloga embarquei nessa aventura. Gente, e que aventura! Já disse, tenho 41 anos de idade, mas as pessoas me olham como se eu fosse um bebê. Entendo que se preocupam comigo, que pensam no meu melhor, na minha saúde, no meu bem estar… Acreditem, no aeroporto eu tive que assinar um termo de responsabilidade para entrar no avião. Não queriam deixar eu viajar sozinha. Cada coisa que as pessoas com deficiência passam no aeroporto. Até me carregaram para o avião, dois comissários bonitos e fortes. Eu deixei! De verdade, eu queria um elevador bonitão! Dali em diante já era tudo diversão eu queria viver cada segundo, do bom e do que não era tão bom assim. Foi divertido assistir a reação da aeromoça e do piloto perguntando sobre o meu acompanhante e eu dizia bem alto e empoderada! Estou viajando sozinha!
Pousamos, fui recebida pelo calor de Teresina e pelo abraço dos meus tios! Eles valorizaram muito a minha atitude! Desci do avião, sem problemas, tudo correu bem. Pegamos o carro e seguimos para casa deles. No meio do caminho, tranquilos, apreciando a paisagem, a cidade, lembrando dos perrengues da viagem de avião, ouvindo música. Dei um grito no carro! Assustei meus tios! A Malaaaa! Esquecemos a mala no aeroporto! Voltamos ao aeroporto e encontramos a mala bonitinha passeando pela esteira! Rimos muito pela situação!
Cheguei no dia 6 de novembro e depois de uma boa noite de descanso finalmente o dia 7. Dia do meu aniversário! Fui surpreendida com um belo café da manhã de aniversário com deliciosas comidas nordestinas e com um lindo buquê de flores. Eu adoro comer! Quem não gosta? O almoço teve churrasco, o dia foi incrível, essa viagem foi memorável!
A minha viagem foi para entender e sentir o meu desejo por mais autonomia para sair de casa, viajar, trabalhar e viver. Eu quero tudo o que as pessoas querem. Nada de diferente. Quero casar, ter filhos, trabalhar, dirigir por aí… Às vezes dou uma zapeada no Tinder… sabe como é, né? Como sempre falo na terapia, a vida está lá fora! E é pra lá que eu vou! Já estou planejando a próxima aventura! E quando acontecer venho aqui contar para vocês. Obrigado ao Instituto Paradigma pelo espaço e a oportunidade de contar essa história!