Novos olhares, novas fronteiras  

Fabiano Puhlmann é psicólogo com especialização em diversas áreas da reabilitação física, social e clínica de pessoas com e sem deficiência. É um pesquisador de novas tendências e tecnologias. No Instituto Paradigma Fabiano atuou na área de inclusão econômica, dedicado a atender as empresas na consultoria de processos que facilitassem o acesso das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e na preparação de ambientes acessíveis e culturalmente inclusivos.
Fabiano Puhlmann com uma de suas paixões. Movimentar o corpo em bicicleta adaptada a cadeira de rodas.

Por Arthur Calasans

 

Em entrevista para o canal Fronteiras do Pensamento o escritor moçambicano Mia Couto disse: para encantar o mundo é preciso nos encantarmos primeiro, é estarmos disponíveis para sairmos de nós mesmos, olharmos para o outro, emigrarmos de nossas certezas, sabermos quando encontramos uma história capaz de dar a nossa vida múltiplas formas de existência.

 

Essa introdução, com a fala de Mia Couto, define bem quem é Fabiano Puhlmann, define a sua forma de dialogar com os temas do contemporâneo e como ele olha para as suas inquietações causadas por essa escuta ampliada para as mudanças que possam ocorrer em nossas vidas.

 

Psicólogo com especialização em diversas áreas da reabilitação física, social e clínica de pessoas com e sem deficiência. É um pesquisador de novas tendências e tecnologias. No Instituto Paradigma convivemos por muito tempo na rotina do escritório, eu na comunicação e Fabiano em sua área de inclusão econômica, dedicado a atender as empresas na consultoria de processos que facilitassem o acesso das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e na preparação de ambientes acessíveis e culturalmente inclusivos. É renomado profissional nas áreas de acessibilidade, tecnologias assistiva e inclusão. Depois de muitos anos dedicados a esses temas foi obrigado a dialogar com a vida, com as mudanças e com novos desafios e conhecimentos que ampliassem sua carreira e trouxessem para ele novos encantamentos pela vida.

“Como quase todas as pessoas a Pandemia da COVID-19 me obrigou a me olhar internamente. Foi uma parada importante para rever minha vida, as minhas relações, o ambiente onde vivia e nesse “pacote” de ressignificação a minha atuação profissional. Eu não queria mais uma atuação dedicada, somente aos temas ligados as pessoas com deficiência, queria uma atuação plural, queria participar coletivamente de projetos, ações e nesse movimento de ideias descobri que gostaria de conhecer mais sobre  finanças e investimentos”.

 

Mappin venha correndo Mappin, é a liquidação! 

 

Quem nasceu antes de 1980 lembra das vinhetas icônicas da liquidação das lojas inglesas Mappin. Era caminhão verde por toda a cidade de São Paulo. O Mappin era uma loja referência no centro da cidade de São Paulo. Localizada na praça Ramos de Azevedo, em frente ao belíssimo teatro Municipal. Esse método inglês de vender produtos no varejo e financiar sonhos com carnes e promissórias fez do Mappin um sistema de financiamento próprio com taxas e juros que levavam os lucros da loja as alturas. Vendia-se dinheiro, dinheiro para se gastar no Mappin.

 

Fabiano tinha 13 anos, era um jovem office boy interno, levava documentos e fazia serviços internos na maior loja de departamentos do Brasil.  Uma grande loja de departamentos, onde em cada andar, o ascensorista anunciava os produtos que havia e, quem se interessava, descia naquele ali, ou subia para o seguinte, onde ele anunciava os outros produtos deste andar e assim por diante.  Nesse momento, você está em um andar, fazendo certas coisas com certas pessoas, e no momento seguinte, já está em outro andar com outras pessoas fazendo outras coisas. Muda-se rapidamente de lugar, em um novo tempo, muda-se de novo, muda-se tanto, você e tudo em sua volta, que nem você nem ninguém jamais é o mesmo do momento anterior. Era assim a sensação de estar dentro do Mappin. Era assim a sensação de quem trabalhava no Mappin. Tudo era sempre novo e diferente. Para um jovem de 13 anos passar pela sessão de brinquedos e não torrar seu salário com o mais moderno autorama do Nelson Piquet, um novo Ferrorama XP-500, uma Caloi Extra light novinha era necessária muita disciplina e controle emocional.

 

“Aprendi muito trabalhando, observando as pessoas mais velhas, minha educação financeira sempre foi de ajudar em casa e guardar uma parte. Nessa idade eu já mantinha muitas coisas que meus amigos não faziam. Pagava por aulas de violão, judô, comprava as minhas roupas”. 

 

Em um dia ouvindo atentamente a palestra de um diretor que começou na empresa como office boy percebeu que ele era o único brasileiro na empresa a ocupar um cargo na direção, todos os outros diretores eram ingleses ou americanos. Como office boy levaria sete anos para subir o elevador e ocupar o cargo de auxiliar em alguma sessão. Observou que naquela época os gerentes e diretores possuíam graduação em economia, finanças, alguns mais elevados com pós-graduação. Entendeu ali que um caminho para evoluir e subir aos andares mais altos do Mappin, ou da vida, seria colocar a “cara nos livros” e estudar e construir uma carreira. No meio desse planejamento sobre a carreira e a vida, um mergulho mudou completamente a rota de planos e percursos traçados incialmente.

 

“Quando eu tinha 18 anos quebrei o pescoço mergulhando em uma piscina, essa experiência foi traumática. Uma jornada importante para minha recuperação foi entender rapidamente o custo de vida de uma pessoa com deficiência no Brasil. Logo, percebi que necessitaria de trabalho e dinheiro para me manter, isso me ajudou no percurso de reabilitação. Depois consegui estudar e dedicar minha carreira a compartilhar e ajudar outras pessoas que adquiriram uma deficiência a entender esse momento, a explorar o corpo, a buscar outras possibilidades, principalmente no tema da sexualidade, onde me especializei”. 

 

Puhlmann construiu uma carreira de sucesso como psicólogo clínico. Se tornou referência em sexualidade da pessoa com deficiência dentro e fora do Brasil, dedicou-se a palestrar por todos os cantos. Atuou sobre os temas ligados a inclusão da pessoa com deficiência no trabalho durante muito tempo.

Educação financeira, psicologia financeira e mercado  

 

 

Tudo começou com o livro do Luiz Barsi Filho, o maior investidor individual brasileiro. “Eu devorei o livro, repleto de histórias e fotografias que contam além da história do Barsi, os caminhos para se entender sobre investimentos no Brasil, sobre as empresas brasileiras, os investimentos em empresas com consciência energética, social e governança”. Foi a união perfeita dos sonhos do menino de 13 anos, com a busca por novos conhecimentos do psicólogo de 58. Foi necessário muito estudo, pesquisa e a busca constante por laços de uma atuação profissional que criasse camadas com a sua atuação clínica, sempre com um olhar para todas as pessoas, com e sem deficiência, com foco em entender mais sobre finanças, investimentos e economia.

 

Para que isso acontecesse, Fabiano fez duas importantes formações em “Value Investing”, o value investing é uma estratégia de investimento onde as ações selecionadas para a compra pelo investidor se encontram a um preço abaixo do seu valor em um determinado momento do mercado de capitais. O significado deste termo vem da língua inglesa, e sua tradução literal seria “investimento em valor”. Outra importante formação e pesquisa constante realizada por ele é entender cada vez mais a alocação de ativos e a implementação de estratégias de investimentos para equilibrar risco versus recompensa, ajustando a porcentagem de cada ativo em uma carteira de investimentos de acordo com a tolerância ao risco de cada investidor, de suas metas e prazo de investimento estipulado pela pessoa assessorada. É entender o perfil de risco de cada pessoa e dialogar com essas características em uma consultoria mais assertiva e personalizada.

 

“Meu objetivo é me especializar cada vez mais em Finanças Comportamentais. Com frequência o tema da psicologia financeira aparecia nos cursos que fiz. Entendi que para além do corpo e dos temas que estudava precisava entender como usamos o dinheiro que ganhamos, como economizamos e a partir disso saber como investimos, onde investimos. Esse é um tema que me motivou a seguir nessa jornada clínica e financeira”. 

 

Com dedicação e tempo, Fabiano gosta de frisar que esta jornada no mundo das finanças e dos investimentos está no começo, há muito para ser explorado e aprendido. Quando procuramos novos significados para palavras que já existem usamos o prefixo DES. Na história de Fabiano Puhlamnn a vida é feita de “DEScomeços”. Ressignificada essa palavra é responsável pelos nascimentos que promovemos na vida. Em seu consultório continua o atendimento clínico das pessoas, com e sem deficiência, de suas questões com amor e trabalho. Hoje, já recebe pacientes interessados em administrar a vida profissional e financeira. Na psicologia ou nas finanças comportamentais é com o compromisso de escutar o outro e perceber seus desejos, que ele segue nesse lugar mais amplo que uma função. Seja no apoio emocional, financeiro ou os dois juntos é diante dessas fronteiras que Fabiano Puhlmann quer traçar novos caminhos!

 

Boa sorte camarada!