Foto: Acervo pessoal. Créditos: Vilma de Carvalho Sestaro
Por Elsa Villon
A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, que acontece de 21 a 28 de agosto, foi estabelecida pela Lei nº 13.585 de 2017. O objetivo é conscientizar a população, combater o preconceito e discriminação e promover a inclusão.
Para Samuel Sestaro, modelo e mestre de cerimônias, uma das principais barreiras enfrentadas por essas pessoas é a de não serem vistas como cidadãos com capacidade plena: “Desconsideram o nosso potencial, opiniões e ações”.
Natural de Santos, aos 31 anos, ele é formado em design de moda e tecnólogo em administração de empresas. Além disso, é vice-diretor regional do sudeste da Federação Brasileira de Associações de Síndrome de Down. Também é um dos 18 integrantes do Grupo Nacional de Autodefensores desta Federação, com jovens de diversas regiões do país que atuam para a conscientização da sociedade sobre os direitos das pessoas com deficiência.
Um ponto de destaque específico sobre a síndrome de down é que nem todas as pessoas que apresentam a condição genética tem, necessariamente, deficiência intelectual. Cada indivíduo é único e o diagnóstico não pode ser generalizado para todos. Essa informação é importante para romper com estereótipos, conforme explica o Movimento Down.
O diagnóstico de Samuel não foi uma barreira para seguir seus objetivos. Desde os dois anos participa de viagens, eventos e congressos da UP Down – Associação de Pais e Filhos com Síndrome de Down, fundada por seus pais e outros casais de Santos para promover a inclusão.
Escola e a carreira
“Eu tenho muitas boas lembranças da minha infância”, afirma Samuel. Além da militância ao lado dos pais, ele sempre estudou em escolas regulares. Mas garantir seu direito de frequentar salas de aula comuns não foi fácil: “Sempre indicavam uma escola especial sendo o melhor para mim, mas os meus pais nunca aceitaram essa sugestão”.
Além da escola, o modelo começou a desfilar cedo: aos 12 anos de idade, com os lançamentos dos uniformes do Santos Futebol Clube. Em seguida, fez um curso de modelo em uma agência na cidade e começou a participar de eventos e desfiles. Ao concluir o ensino médio, decidiu cursar design de moda: “Nesse curso, a gente aprende a criar, mas também fazer fotografias e eventos ligados à moda”.
Samuel tirou seu registro como modelo profissional e usou sua experiência para trabalhar como mestre de cerimônias, tanto no Brasil quanto no exterior. Com sua experiência e por meio da sua militância pelos direitos das pessoas com deficiência, já representou o país em Lima, no Peru; Genebra, na Suíça; e Glasgow, na Escócia. É fluente em inglês e está aprendendo italiano, por conta da descendência familiar: “O pai do meu pai só falava italiano, então estou aprendendo”.
Com a pandemia, os desfiles ficaram em segundo plano e sua prioridade tem sido os eventos virtuais. Além da formação em moda, ele também estudou administração de empresas e realizou um sonho: trabalhar em uma grande empresa em São Paulo. “Durante dois anos, fiz parte do departamento de Recursos Humanos do banco Itaú. Foi uma experiência muito boa, pois fui muito acolhido e fiz amigos que mantenho até hoje”, destaca.
A luta pela inclusão
Defender os direitos das pessoas com deficiência é uma luta que acompanha Samuel desde a infância, por meio da associação Up Down: “Eu cresci participando dessa luta devido à participação dos meus pais”, pontua. Em 2002, deu sua primeira palestra em Recife, contanto sobre sua trajetória de vida e inclusão. Desde então, não parou mais: “Já perdi as contas de quantas palestras já fiz”.
Samuel já se apresentou em diversos congressos, empresas, câmaras de vereadores, chegando ao Congresso Nacional. Além disso, também falou a professores em muitas viagens que fez por diversas cidades brasileiras ao lado de seu pai. A eliminação das barreiras atitudinais é um dos pontos trazidos por ele sobre a importância da conscientização da sociedade sobre os direitos das pessoas com deficiência, demonstrando as oportunidades alcançadas nos últimos anos. “Atualmente, existem jovens com deficiência intelectual formados em universidades, atuando nas mais diversas profissões, como escritores, palestrantes, professores, atores, modelos e outras tantas”, comenta.
Se por um lado há muitos avanços, por outros, há também retrocesso. Um deles é o Decreto nº 10.502, que considera classes e escolas exclusivas para crianças e jovens com deficiência das salas de aula regulares. “Temos visto as notícias em vários jornais e é um retrocesso dizer que alunos com deficiência devem estudar em escolas separadas. Espero que os pais não aceitem essa segregação”, enfatiza.
Samuel acredita que se tivesse estudado em uma escola especial, não teria cursado uma faculdade e nem realizado tudo o que já realizou. Mas ainda há muito há sonhos. Noivo há dois anos, ele está com o casamento marcado para março do ano que vem, depois de adiar três vezes por conta da pandemia. “Nos próximos dez anos, me vejo casado, trabalhando e viajando com a minha esposa Isabela”, finaliza.