A Natureza para todas as Pessoas

Pedra, pó, areia e deserto. Estar em meio a lugares que requerem preparo físico e equipamentos não impediu a profissional de educação física Ana Borges de sonhar em levar pessoas com deficiência para os desafios das trilhas e montanhas na natureza selvagem.  O Projeto Expedições Inclusivas nasceu em 2012 em uma conversa informal entre dois amigos aventureiros, Ricardo Panelli e Ana Borges. Apaixonados por pessoas e pela natureza, tinham um sonho em comum: ampliar as possibilidades das atividades na natureza para as pessoas com deficiência. 
Fotografia colorida em plano aberto de equipe do projeto Expedições Inclusivas em subida de montanha com barra direcional usada entre dois montanhistas como ajuda técnica que apoia pessoas com deficiência visual em trilhas e praticas esportivas na natureza.
Fotografia colorida em plano aberto de equipe do projeto Expedições Inclusivas em subida de montanha com barra direcional usada entre dois montanhistas como ajuda técnica que apoia pessoas com deficiência visual em trilhas e praticas esportivas na natureza.

O importante papel de atividades em meio a natureza para a inclusão social

Fotografia colorida de dois montanhistas usando barra direcional para subida da montanha Elbrus.
Fotografia colorida de dois montanhistas do projeto Expedições Inclusivas usando barra direcional como ajuda técnica para pessoas com deficiência visual em prática esportiva de aventura em trilha de montanha.

 

Pedra, pó, areia e deserto. Estar em meio a lugares que requerem preparo físico e equipamentos não impediu a profissional de educação física Ana Borges de sonhar em levar pessoas com deficiência para os desafios das trilhas e montanhas na natureza selvagem.  O Projeto Expedições Inclusivas nasceu em 2012 em uma conversa informal entre dois amigos aventureiros, Ricardo Panelli e Ana Borges. Apaixonados por pessoas e pela natureza, tinham um sonho em comum: ampliar as possibilidades das atividades na natureza para as pessoas com deficiência.

 

O nome “Expedições” foi escolhido por remeter a exploração de algo novo, exploração do desconhecido à exploração de possibilidades de incluir a pessoa com deficiência em meio aos esportes na natureza. “Nosso objetivo é contribuir para que todas as pessoas tenham qualidade de vida por meio do esporte, do lazer e da cultura. As expedições promovem uma importante troca de experiências com quem tem curiosidade sobre esportes na natureza e reforça cada vez mais nosso objetivo por uma sociedade mais inclusiva”, comentam os idealizadores.

 

Segundo Ana, é na natureza que encontramos o ambiente mais democrático para prática esportiva. “Quando visitamos um parque, em qualquer cidade, percebemos nesse lugar a presença de todas as pessoas, todos os tipos de pessoas. Nos esportes de aventura, em lugares mais protegidos e preservados também é assim, esse território não deveria ser proibido para ninguém. É na natureza uma forma de nos vinculamos à nossa ancestralidade e entendermos que não é um lugar distante de nós.”

 

Inclusão em meio a natureza

 

Com o desejo de incluir e ampliar o acesso para as pessoas com deficiência ao montanhismo e ao esporte de aventura, o projeto partiu para a sua primeira expedição na região do Condoriri, na Bolívia. Duas pessoas com deficiência visual, o massoterapeuta Ed Carlos Gomes e a bancária Lucimara Gomes escalaram a montanha Huayna Potosi, que tem mais de 6.000 metros de altitude, na companhia dos montanhistas Ricardo e Ana, idealizadores do projeto.

 

“Nunca mais vou me esquecer desse momento. Descíamos a montanha no retorno da expedição, o sol iluminava e esquentava o rosto de cada um da equipe. Era uma sensação muito agradável. Me lembro do momento que o Ed e a Mara disseram que estavam vendo o sol, sentindo a luz nos olhos e o calor no rosto. Naquele instante pensei que poderíamos subir mais montanhas, desbravar novos territórios, realizar novas aventuras e representar o desejo das pessoas com deficiência de existirem e estarem onde quiserem.”, relata Ana.

 

O papel das ajudas técnicas

 

Nas trilhas e caminhadas pelas montanhas a equipe de expedições inclusivas usava uma barra direcional desenvolvida pela Fundação ONCE, uma organização não governamental de solidariedade social e sem fins lucrativos espanhola. O objetivo desta organização é melhorar a qualidade de vida dos cegos e pessoas com deficiência visual.

 

As ajudas técnicas e a tecnologia assistiva apoiam muito a inclusão das pessoas nos esportes de aventura, no turismo e no contato das pessoas com deficiência com a natureza e com a vida nas cidades. “Em muitos casos uma boa inovação é desenvolvida no momento que precisamos romper barreiras e obstáculos na natureza ou mesmo na cidade.” reforça Ana Borges.

 

No uso da barra direcional o guia faz a descrição de obstáculos e os movimentos podem ser sentidos pela pessoa que está atrás ou ao seu lado. As ajudas técnicas e a tecnologia assistiva apoiam muito a inclusão das pessoas nos esportes de aventura, no turismo e no contato das pessoas com deficiência com a natureza e com a vida nas cidades. “Em muitos casos uma boa inovação é desenvolvida no momento que precisamos romper barreiras na natureza, ou mesmo na cidade.” reforça Ana Borges.

 

Primeira montanhista cadeirante do Brasil desenvolve projeto de acessibilidade para escaladas

 

Esse foi o caso da primeira montanhista cadeirante do Brasil, Juliana, que desenvolveu repentinamente uma síndrome neurológica extremamente rara que, no caso da montanhista, apareceu na gravidez do seu filho Benjamin.

 

“Eu e meu marido Guilherme estamos juntos há 15 anos e sempre gostamos muito de acampar. Descobrimos as trilhas e montanhas juntos há mais ou menos dez anos. Quando eu fiquei doente eu perdi muitas coisas e ele me prometeu que essa paixão por trilhas e montanhas eu não iria perder. Então, ele criou a Julietti que é uma cadeira desenvolvida por ele para enfrentar trilhas e montanhas, pedras e buracos. Desde então, já subimos diversas montanhas e eu me tornei a primeira montanhista cadeirante do Brasil.”, conta orgulhosa Juliana.

 

O casal já visitou mais de 30 lugares diferentes no Brasil e no mundo, sempre atrás de muitas aventuras com a Julietti. A partir daí, nasceu o projeto Montanha Para Todos e uma empresa de tecnologia assistiva, que distribui cadeiras de rodas preparadas para o montanhismo em todo Brasil e no mundo.

 

“Ninguém acredita que alguém em uma cadeira de rodas possa ir para a natureza.  Eu mesma, antes da deficiência, nunca tinha visto cadeirante fazendo trilha ou escalando.” Atualmente, o casal promove palestras e mantém o Instituto Montanha Para Todos.

 

A natureza nos expõe a situações imprevisíveis e nos obriga a transformar problemas e obstáculos em soluções, esse é objetivo da inclusão transformar o olhar para as limitações em caminhos de possibilidades e soluções, além de provocar uma profunda mudança na sociedade. Mesmo que os ambientes ofereçam adversidades é uma luta de todas as pessoas, com e sem deficiência, de estarem em lugares expostos a situações adversas. É aqui que exigimos do corpo suas possibilidades e potências. A natureza é para todos! Boa aventura!

 

Agradecimentos ao Instituto Montanha para Todos e ao Projeto Expedições Inclusivas.