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Alfabetizar é Incluir

Descrição da imagem: Criança com baixa visão, em uma sala de aula, escreve seu nome em um papel segurando em uma de suas mãos uma tele-lupa.

 

Luiza Russo 

Diretora Executiva do Instituto Paradigma 

 

 O Dia Mundial da Alfabetização, 8 de setembro, nos inspira a pensar no significado da leitura e da escrita enquanto um ritual essencialmente humano, civilizatório, e que se constitui como um dos importantes instrumentos de registro da nossa memória enquanto grupo social.  

 

Antes da discussão de métodos e pré-requisitos para que o aluno adquira a competência de ler e escrever, independentemente de suas singularidades, existe a necessidade do educador pensar a respeito do sentido desta tarefa, uma vez que, como versa a tradição, transferimos para a escola essa responsabilidade.  

 

Portanto, a sociedade reconhece a escola como o espaço institucional capaz de exercer esta tarefa, introduzindo seus alunos no uso dessa ferramenta de comunicação humana; e que no decorrer do processo de alfabetização poderá incluir ou exclui seus alunos no espaço acadêmico da sala de aula, no planejamento pedagógico, na adoção de uma certa disciplina didática com os estudantes, e no exercício resiliente do uso da palavra e do registro dela. O processo de ensino e aprendizagem, na instituição escola, portanto, segue um determinado rito, reprodutor quase automático de uma tarefa que vem se esvaziando de significado. 

 

Por sua vez, fora dos muros da escola, a realidade se apresenta com uma dinâmica diferente, que afeta o comportamento social dos nossos estudantes: todos imersos em ler ou decifrar, o mais rapidamente possível, todos os estímulos e circunstâncias que vivenciam no seu cotidiano, na comunidade e na família. Um comportamento, que para ser apaziguado internamente, eles recorrem a intuição, ao estímulo visual, a conexão de fatos, e ao reconhecimento de signos que se repetem incessantemente, exigindo a confirmação do seu significado por um adulto ou parceiro mais experiente, e, com isso levando-os a fazer uma leitura de mundo e uma ressignificação constante de seus valores, crenças e vivências. 

 

Vygotsky (in Duarte Paes, 2020) dizia que “…a educação é tão admissível fora da vida, quanto a combustão sem oxigênio”, e por isso, ele reforçava a necessidade de haver empatia e uma relação humana com os conteúdos propostos pela escola. A escolha dos conteúdos escolares e de  estratégias  pedagógicas inclusivas para viabilizar o processo de alfabetização, deveriam superar a repetição e a reprodução de procedimentos didáticos já desgastados , por estarem somente fixados na tarefa simplista do “saber ler e escrever”,  reduzindo o professor ao papel de “um  operário que reproduz modelos”,  e que entrega um indivíduo “adestrado” para cumprir uma nova competência, desistindo do papel transformador de um trabalhador intelectual, que se liberta das repetições e se aventura com seus estudantes nas descobertas das singularidades humanas, da diversidade cultural marcada pelas descobertas científicas e da natureza que nos cerca.  

 

Por fim, é importante nos libertarmos dos clichês que reforçam a ideia de que falar do processo de alfabetização inclusiva é   falar de pessoas com deficiência. Sim!  É também, mas não só isso. A alfabetização inclusiva resultaria do que há em comum entre as interações dos indivíduos, nas suas singularidades, com os objetos, os saberes, e os signos que cercam a humanidade, destacando o grau de significado desta experiencia. E, como consequência, tornaríamos inseparáveis essa interação dos aspectos mais particulares do indivíduo com o legado humano inscrito no mundo, independentemente do seu nível de escolaridade. 

 

Alfabetizar é um ato humano de amor e de necessidade de nos perpetuarmos enquanto seres humanos que cumprem um papel finito neste mundo.